O anúncio da abertura de um showroom da Tesla na véspera de Ano Novo na cidade chinesa de Urumqi, na região de Xinjiang, provoca críticas de grupos de direitos e entidades empresariais dos Estados Unidos, tornando a iniciativa da empresa o mais recente foco de tensão na relações sino-americanas. Localizada no extremo oeste da China, Xinjiang abriga a minoria étnica uigure, de origem turcomana e fé muçulmana. Especialistas e grupos de direitos humanos estimam que mais de um milhão de uigures e membros de outras minorias muçulmanas estejam detidos em campos de concentração e submetidos a trabalhos forçados sem acusação formal e direito a julgamento. Os erros dos “dissidentes” estariam em falar uma língua própria (o uigur), almejar alguma autonomia e professar uma crença diversa do confucionismo, do taoísmo e do budismo, predominantes entre da maioria han falante de mandarim – ainda que a China seja um estado ferrenhamente laico.
Nesta terça-feira (4), o Conselho para as Relações Americano-Islâmicas (CAIR, na sigla em inglês), a maior organização de defesa dos muçulmanos dos EUA, manifestou que a Tesla stá “apoiando o genocídio”. Críticas semelhantes vieram de um grupo comercial dos EUA, a Alliance for American Manufacturing, e do senador republicano Marco Rubio. “Elon Musk deve fechar o showroom da Tesla em Xinjiang”, exclamou o CAIR em sua conta oficial no Twitter, referindo-se ao fundador da Tesla.
Negócios e tensões
O presidente dos EUA, Joe Biden, e membros do Congresso dos EUA aumentaram a pressão sobre as empresas para se distanciarem de Xinjiang. Em 23 de dezembro, Biden assinou um projeto de lei barrando a importação de mercadorias provenientes da região. Os Estados Unidos rotularam o tratamento dado pela China aos uigures e outros muçulmanos em Xinjiang como genocídio e, junto com outros países, planejam um boicote diplomático às Olimpíadas de Inverno de Pequim em fevereiro. A China rejeitou acusações de trabalho forçado ou quaisquer outros abusos, dizendo que os campos oferecem treinamento vocacional e que as empresas americanas devem respeitar suas políticas.
A Tesla não respondeu imediatamente às críticas. A montadora opera uma fábrica em Xangai e está ampliando sua produção na região diante do aumento das vendas. A China também se tornou um centro de exportação da Tesla para a Europa e outros mercados.
No ano passado, o bilionário Elon Musk teve que suavizar as relações com as autoridades chinesas depois que a Tesla foi banida de propriedades do governo diante do temor de que os dados coletados pelas câmeras dos veículos estivessem sendo transferidos para o exterior.