PT e PL enfrentam desacertos internos em estados importantes, o que pode lhes solapar votos vitais
Para o pleito presidencial, Lula e Bolsonaro navegam em um ambiente beirando o ideal. Esqueça quem está liderando. Para ambos, as chances de vitória no segundo turno aumentam justamente um contra o outro. Consolidado como terceira via, Ciro Gomes é o tertius quase perfeito, capaz de não levar, mas solapando votos vitais de ambos os lados, o que obrigaria reavaliações por parte dos adversários. Daí a possibilidade real de não haver debate televisivo antes do primeiro turno. Ciro tem verve para desequilibrar a balança para um lado desconhecido. Logo, um incômodo a ser evitado no primeiro turno e um eventual adversário respeitável para quem enfrentá-lo em um improvável segundo turno.
Mas a vida sem debate televisivo não está nem de longe garantida para o ex e para o atual presidente. Com as campanhas andando, há muito o que combinar com a bases, pois há eleições para governadores e os partidos precisam firmar bancadas para a próxima legislatura. Esses são aspectos fundamentais para o futuro das agremiações, que dependem de bons puxadores de votos e de ações militantes como salvaguardas ao resultado para o executivo nacional. Por isso, os estrategistas políticos são tão importantes quando os gurus de campanha. Só que eles andam em baixa ou não trabalham direito.
No caso do PL, a treta envolve duas frentes em São Paulo. Aliado e candidato ao Senado pelo PSC, o apresentador José Luiz Datena se considera alvo da desconfiança por parte do PL, já que no passado desistiu de candidaturas. Sua eventual saída, enfraqueceria Bolsonaro em São Paulo. Outro problema é com o deputado federal e humorista Tiririca, puxador de votos do PL desde os tempos do PR. Em 2010, ele foi o segundo deputado federal mais votado do país até então. Pronto para embarcar para seu provável quarto mandato, ele ameaça desistir, o que também afetaria a performance do partido em São Paulo. O motivo não é prosaico. Eleito e reeleito com a inscrição 2222, de fácil memorização para os eleitores menos letrados, viu seu número nas urnas ser repassado ao deputado Eduardo Bolsonaro, que chegou ao partido junto com pai, há menos de 7 meses. Tiririca considera que o 2222 é um patrimônio seu dentro do PL enquanto se apresentar ao legislativo federal.
Impeachment
No caso do PT, há rancor envolvido. Em Pernambuco, onde os partidos mais à esquerda costumam ter bom desempenho, parte da cúpula local está alinhada com Marília Arraes (Solidariedade). Batizado de oPTei Marília, a ação esvazia a coligação do PT com PSB, que terá o deputado federal Danilo Cabral como cabeça ao governo. A razão se deve ao apoio do PSB ao impeachment de Dilma, em 2016, seguido da campanha agressiva contra o PT em 2020, quando a então petista Marília foi derrotada por João Campos para a Prefeitura de Recife. De novo o PT vacila na hora de apaziguar os ânimos em nome das alianças.
Esses estorvos, percalços e desacertos são do jogo e podem custar caro no segundo turno entre Lula e Bolsonaro, pois ainda não está claro para qual lado irão os votos dos indecisos. Está na hora dos caciques reforçarem as costuras internas.