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A direita e as experiências com Bolsonaro, Collor e Jânio

O ex-ministro Afonso Arinos de Mello Franco foi um observador privilegiado da política brasileira e personagem importante na história do país. É de sua autoria, por exemplo, a primeira lei contra discriminação racial, promulgada em 1951. Depois, ele seria o primeiro chanceler brasileiro a visitar a África, em 1961 – e foi ele quem deu, em 1964, a notícia a San Tiago Dantas, ministro da Fazenda de João Goulart, de que os Estados Unidos iriam reconhecer o governo militar imediatamente após o golpe de Estado (o que reduziu a pó qualquer tentativa de resistência por parte do presidente deposto).

Afonso Arinos também é conhecido por uma frase famosa. Ele resumiu como ninguém a relação entre Jânio Quadros e o partido pelo qual foi eleito, a União Democrática Nacional, que representava a direita entre 1945 e 1965: “Jânio foi a UDN de porre”. A frase tem um duplo sentido. O primeiro, mais óbvio, faz menção ao estado constante de embriaguez do ex-presidente. Mas também alerta para uma aliança feita sob conveniência, sem uma avaliação mais profunda por parte dos líderes udenistas.

Jânio aproveitou-se da sede de poder da UDN, que desde a década de quarenta não ganhava uma eleição presidencial, para fazer um acordo de apoio ao seu partido, o PTN. E associou-se à agremiação, criando problemas para os colegas desde o primeiro minuto do governo. Um dos casos mais sintomáticos foi a condecoração de Che Guevara, que deixou os conservadores de cabelo em pé (anos mais tarde, o jornal Pasquim publicaria uma foto da condecoração, com aqueles balõezinhos de pensamento das histórias em quadrinho. Guevara estaria pensando: “Será que esse louco sabe que eu sou ‘comuna’?”; no balãozinho de Jânio, estava escrito: “Será que esse ‘comuna’ sabe que eu sou louco?”).

Nesta eleição, a direita se uniu contra Henrique Lott, que contava com o apoio de toda a esquerda. O mesmo viria ocorrer em 1989, quando os conservadores em peso aderiram à candidatura de Fernando Collor de Mello contra a de Luiz Inácio Lula da Silva. E novamente em 2018 e 2022, quando apoiaram Jair Bolsonaro contra os candidatos do PT.

Tanto na eleição de Jânio como nos pleitos de Collor e Bolsonaro, a direita também pegou carona em discursos como o combate à corrupção e em privilégios de funcionários públicos. São causas importantes e necessárias – mas quando são o centro de uma narrativa política nunca oferecem vida longa aos candidatos que adotam esse discurso.

O problema que se vê em Jânio, Collor e Bolsonaro é que os três são mais candidatos que se opõem a algo do que a favor de alguma coisa. Jânio protestava contra as supostas roubalheiras de Juscelino Kubistchek (nunca comprovadas, por sinal); Collor era contrário à desarrumação institucional generalizada provocada por José Sarney; por fim, Bolsonaro passava mais tempo falando mal do PT do que divulgando suas propostas de governo. Há um agravante neste tipo de situação: quando um presidente é eleito por bater em alguém, tem dificuldades depois para sair do palanque (vê-se isso acontecer hoje com Lula em relação a Bolsonaro).

 Outro fator em comum: esses três políticos apoiados pela direita foram fenômenos eleitorais inquestionáveis – mas, até por isso, acreditavam que o capital político era integralmente deles – e não dos partidos que os apoiaram.

Essas eleições foram igualmente marcadas por discursos muito agressivos em relação aos oponentes – aliás, pode-se dizer que o chamado discurso de ódio foi inventado pela UDN ainda na década de 1950, mais precisamente por Carlos Lacerda. Um orador fabuloso e carismático, Lacerda dizia sobre Getúlio Vargas, que se tornaria presidente eleito em 1954: “Não pode ser candidato. Se for, não pode ser eleito. Se eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar”.

“Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”, já dizia Albert Einstein. Se a máxima de Einstein for verdadeira, a direita precisa procurar novos caminhos em 2026 e não embarcar mais em personagens como Jânio, Collor e Bolsonaro. Se quiserem ter sucesso, os direitistas precisam se unir ao Centro. E, para que isso ocorra, precisam se afastar de posições radicais que estimulam a polarização. Os centristas já mostraram que querem um ambiente político mais comedido e sem provocações. Se for novamente atrás de um candidato com discurso radical e populista nas próximas eleições,  a direita corre o risco de ficar falando sozinha novamente.

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