A direita brasileira, nos últimos quatro anos, se amalgamou integralmente com o bolsonarismo. Com a derrota de Jair Bolsonaro em 30 de outubro, porém, percebe-se que o conservadorismo ficou sem liderança. O presidente se retraiu e, nas poucas vezes em que fez aparições públicas, ficou quieto ou pouco falou.
Enquanto isso, a parcela dos bolsonaristas mais fiéis – que não compõem a totalidade dos direitistas – ficou em estado de negação. Os sintomas são vários: uma parte ficou em frente aos quartéis, pedindo intervenção militar; outros ficaram postando vídeos com deslocamentos de blindados nas rodovias brasileiras insinuando que havia um golpe de estado em curso; e também tivemos vídeos nos quais se destacava o chamamento de reservistas para comparecimento aos quarteis (mais uma insinuação de que as Forças Armadas estariam aumentando seu efetivo para tomar o poder).
O que podemos concluir disso tudo? A primeira é que o inconformismo dos bolsonaristas diminui a capacidade de análise desses eleitores. Para eles, não existe a hipótese de ter havido algo errado na estratégia adotada por seu candidato. A culpa é do Tribunal Superior Eleitoral, do Supremo Tribunal Federal, das rádios que não usaram os spots de propaganda eleitoral ou das urnas eletrônicas. Tudo isso explicaria a derrota – menos o discurso adotado por Bolsonaro, que claramente era rejeitado por parcelas significativas do eleitorado. O governo apostou todas as suas fichas nos programas de assistência social, achando que a popularidade de Luiz Inácio Lula de Silva estava baseada apenas no Bolsa Família. Só que isso ajudou muito pouco no cômputo final de votos.
Parte da direita já percebeu os erros cometidos durante a campanha e está lambendo as feridas, esperando o momento correto para iniciar um contra-ataque. E sabe que não adianta apenas eleger o ministro Alexandre de Moraes como único responsável pelo fracasso nas urnas.
O eleitorado conservador teve 58 milhões de votos e perdeu por pouco. Logo, podemos chegar à conclusão de que os sufragistas de centro é que decidiram esse pleito, preferindo Lula. Se quiser reconquistar o poder, assim, a direta precisa atuar de forma eficaz para reconquistar esses centristas em 2026.
Para seduzir esse eleitorado, no entanto, a direita precisará de algo que não tem hoje: consistência. A estratégia de ficar postando fake news insistentemente não funciona com os eleitores de centro, que têm boa formação intelectual e não engolem qualquer bobagem de bom grado.
Na prática, os conservadores precisam formar novas lideranças, que vociferem menos e argumentem mais. Que tenham algum verniz intelectual e não partam diretamente para o recurso fácil da lacração. A direita precisa entender que precisa dos moderados – e que esses moderados não têm a obrigação de aderir ao seu candidato.
Nessas horas, fazem falta intelectuais conservadores que abrilhantariam qualquer debate, como o escritor Nelson Rodrigues, o economista Roberto Campos e os jornalistas Ruy Mesquita e Paulo Francis. Mas eles não discutiriam apenas com esquerdistas, mas também com direitistas rasos.
Escolher o caminho do liberalismo econômico não é algo simples, pois significa rejeitar o caminho mais fácil: usar o dinheiro dos impostos para fomentar programas sociais de redistribuição de renda, com faz a esquerda. Os liberais preferem uma nação com desenvolvimento econômico dirigido pela iniciativa privada, que prime pela sustentabilidade do sistema.
Essa visão só se estabelece com muita leitura e reflexão. Mas, hoje, uma boa parte desses liberais se associa a ignorantes que não se importam com a democracia. Ainda há um bom tempo para a direita esclarecida entender que é preciso diálogo com os eleitores de centro – e que somente esse caminho vai levá-la ao poder. Mas, para conquistar os corações e as mentes desses eleitores, é preciso sensibilidade e consistência. Caso contrário, a chance de a esquerda ganhar de novo em 2026 é bastante considerável.