Calamidades como as enchentes que o sul da Bahia enfrenta costumam ser uma forma eficaz de testar postulantes e mandatários a mostrarem seus brios enquanto homens públicos. Ainda mais se for em ano eleitoral. Vamos ao que podemos auferir, sem maiores julgamentos além dos permitidos pelos fatos.
A senadora e pré-candidata pelo MDB, Simone Tebet (MS), não se manifestou nos últimos dias sobre a situação, sendo ela uma política experiente e ex-vice governadora do Mato Grosso do Sul. O ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro (Podemos) usou as redes sociais para prestar solidariedade às famílias atingidas. A ambos, faltou capacidade para se atribuírem valor político. Mesmo sem cargo, Moro poderia ter mobilizado entidades e iniciativa privada que lhe são simpáticas a angariar auxílio aos atingidos. O mesmo vale para Tebet.
Há quem tenha mais poder entre os postulantes à presidência. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), enviou equipes do Corpo de Bombeiros e do Comando de Aviação da Polícia Militar paulista (abaixo). Já o ex-ministro da Fazenda e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT), abriu um canal para doação por meio de uma ONG (abaixo). O ex-presidente Lula cobrou ação das Forças Armadas e disse em seu Twitter que conversou com o governador do estado, Rui Costa (PT), sobre a situação (abaixo). Os três demonstraram algum ânimo, dentro de suas respectivas possibilidades.
Já o postulante ao Planalto e presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), se reuniu com os presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em 28 de dezembro. Pacheco se manifestou em redes afirmando que a prioridade é “amparar as vítimas e reconstruir as cidades”. Fux afirmou que o Judiciário atuará dentro de suas competências por meio do Observatório dos Direitos Humanos para garantir assistência aos atingidos. A atitude mais efetiva foi a de Lira, que se reuniu com 19 deputados da bancada baiana para discutir a situação das enchentes. Ao final, anunciou em coletiva a criação de um fundo permanente para catástrofes – que precisará ser votada. Lira não é presidenciável.
Presidentes
Enquanto alguns postulantes ao Palácio da Alvorada tentam se mexer, a história recente mostra que a inércia não é uma exclusividade de Jair Bolsonaro, que segue de férias em Santa Catarina. Durante a tragédia de Mariana (MG), em 2015, a então presidente Dilma Rousseff (PT) demorou a acordar. A barragem rompeu em 5 de novembro e ela só apareceu no local uma semana depois, em 12 de novembro.
Em maio de 2017, o então presidente Michel Temer (MDB) visitou o Alagoas e Pernambuco para avaliar os estragos causados pelas chuvas. Lá, ele conversou com o governador Renan Filho (MDB), prefeitos dos municípios atingidos pelas chuvas e técnicos da Defesa Civil e liberou recursos a partir de um decreto emergencial.
Em 2019, quando a barragem de rejeitos do Córrego do Feijão se rompeu em Brumadinho (MG), o recém-empossado presidente Jair Bolsonaro (PL) sobrevoou o local ao lado do governador, Romeu Zema (Novo).
Uma postura bem diferente da atual. Bolsonaro optou por seguir em férias durante a maior temporada de chuvas na Bahia em 32 anos – 769,8mm, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Em 26 de dezembro, o governo baiano decretou situação de emergência para mais 47 cidades atingidas pelas enchentes. O decreto tem validade de 90 dias. Para exemplificar, o município de Itajuípe, no sul do estado, tem mais de 800 famílias desabrigadas e está sem água potável. Em entrevista à CNN Brasil, em 27 de dezembro, o prefeito Marcone Amaral (PSD) afirmou que a cidade de 21 mil habitantes precisa de suporte imediato. “Mais de 70% da cidade foi atingida pelas chuva”, disse.
Da parte do governo federal, os ministros Marcelo Queiroga (Saúde), João Roma (Cidadania) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) sobrevoaram as áreas devastadas (acima) fazendo o papel de Bolsonaro e o governador Costa pede recursos. Enquanto isso, Bolsonaro segue de férias extraoficiais, já que seu substituto imediato, o vice-presidente Hamilton Mourão, anunciou que durante o recesso também tiraria férias. Só para encerrar: acidentes, calamidades e catástrofes são os aferidores ideais da qualidade do homem público.