Dois anos atrás, escrevi um artigo que defendia a extinção do horário eleitoral gratuito. E citava uma pesquisa realizada pela revista EXAME em 2020, que mostrava um dado interessante: somente 4 % dos entrevistados responderam que recolhiam informações sobre um candidato através da propaganda eleitoral no rádio e na TV. Cerca de 24 %, o maior grupo de leitores, dizia utilizar os debates das grandes emissoras para essa finalidade.
Jair Bolsonaro provou, na última eleição, que um bom pedaço no horário eleitoral pode ter efeitos práticos quase nulos. Com apenas alguns segundos à disposição, ele foi ao segundo turno com grande folga. Hoje, no entanto, ele está na ponta oposta, alojado no segundo lugar entre os candidatos com tempo no horário gratuito. O presidente possui 160 segundos diários, atrás apenas de Luiz Inácio Lula da Silva, com 200.
Essa maratona de programas terá início no dia 26 e dois nomes relativamente desconhecidos do grande público vão aparecer com destaque. Estamos falando das senadoras Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil). Tebet possui 141 segundos e Thronicke (imagem), 130. Para se ter uma ideia, Ciro Gomes, que está à frente das duas nas pesquisas, tem à disposição apenas 49 segundos.
Dificilmente Tebet e Thronicke estarão no segundo turno. Mas trata-se de uma oportunidade interessante, pois são duas mulheres concorrendo à presidência com um tempo razoável no horário eleitoral. Isso pode criar dois efeitos proveitosos. O primeiro seria chamar atenção para programas alternativos de governo, com propostas diferentes das de Lula e de Bolsonaro. Outro seria tornar mais simples e corriqueira a existência de mulheres candidatas ao cargo político mais alto do Brasil.
Sabe-se, no entanto, que as duas senadoras estão onde estão por conta da legislação que distribui os recursos do Fundão Eleitoral (nesta semana, por sinal, o União Brasil recebeu da Justiça Eleitoral um PIX de R$ 757.970.221,27). Tanto União como MDB resolveram priorizar suas fichas nas candidaturas à Câmara Federal, uma vez que o número de deputados federais é o principal instrumento de cálculo para distribuição de recursos do Fundo Eleitoral. Dessa forma, os dois partidos decidiram lançar candidatas com pouca rejeição e, ao mesmo tempo, diminutas chances de vitória – que não atrapalhariam acordos regionais com os campeões de votos, Bolsonaro e Lula.
Desde 1989, entretanto, sabe-se que a importância de ter muito tempo na TV é algo relativo.
Naquele ano, dono da maior fatia de horário eleitoral (e titular de uma das piores campanhas já vistas na TV), o deputado Ulysses Guimarães chegaria em sétimo lugar, com 4,6 % dos votos. Fernando Collor, que tinha também pouquíssimo tempo à disposição, terminou a primeira etapa eleitoral no topo, com 32,4% dos sufrágios. Geraldo Alckmin, em 2018, tinha um dos maiores programas eleitorais da campanha. Mas chegou apenas na quarta posição, com 4,76 % do total.
O que esses dois fracassos televisivos têm em comum? Um candidato com discurso maçante e carisma zero, que claramente não gostavam de estar diante de uma câmera de televisão. No mundo digital em que vivemos, esse é um pecado mortal – assim como deixar as redes sociais em segundo plano.