Algumas eleições têm dinâmicas completamente inesperadas.
Em 1982, no Rio de Janeiro, o governo estadual era disputado por quatro postulantes: Sandra Cavalcanti, Miro Teixeira, Moreira Franco e Leonel Brizola (foto). Os dois primeiros largaram na frente e ficaram trocando farpas pela imprensa. Sandra era ligada ao ex-governador Carlos Lacerda e foi alvo de acusações seríssimas sobre seu trabalho à frente do serviço social da então Guanabara no início dos anos 1960. Já Miro tinha o ônus de ser ligado ao atual governador Chagas Freitas e sofria o desgaste de ser seu candidato.
Foi aí que a campanha de Moreira Franco, até então estacionado nas pesquisas, começou a grafitar os muros cariocas com a seguinte frase: “Nem Miro, nem Sandra”. Isso bastou para que o eleitorado local prestasse mais atenção em outros nomes. Foi aí que a equipe de Brizola, o ex-governador gaúcho recém-chegado do exílio político, veio com um achado, também pichado por muros e paredes da capital fluminense: “Nem Miro, nem Sandra. Para ser franco, nem Moreira”.
O carioca, um fã do bom humor, adorou o slogan. E foi neste momento que a ascensão de Brizola ao governo do Rio começou (há muitas críticas à atuação dele como governador, especialmente em relação ao combate ao tráfico de drogas – mas isso é tema para outro artigo). Mas observadores atentos deste pleito fazem uma ressalva. Após o crescimento de Brizola, Moreira começou a ganhar votos e, se a campanha tivesse mais uma semana, poderia ter chegado à vitória (naquela época não havia segundo turno).
Essa imprevisibilidade faz da política brasileira algo único. Por isso, fazer previsões utilizando elementos do cenário atual geralmente leva os analistas ao erro, como percebemos em boa parte dos últimas eleições.