O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, disse que o rei está nu: fez críticas contundentes ao ex-presidente Jair Bolsonaro, em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo” e discutiu o futuro da direita após as eleições municipais. Relembrando: Bolsonaro apoiou opositores de Caiado nas duas maiores cidades do estado (Goiânia e Aparecida de Goiânia) e foi derrotado em ambos os municípios. E ainda esteve fisicamente na capital goiana no fim de semana passado, para apoiar o candidato Fred Rodrigues, derrotado no domingo.
Caiado explicou o esvaziamento da direita mais radical no último pleito: “Tem que ser assim, falar desse jeito; se não for assim, você é comunista. Se não for assim, você vai ser condenado. Essas coisas cansaram. O povo está doido para ter emprego, renda, educação, saúde, lazer. Você precisa mostrar por que quer governar, não é criar uma situação de guerra de secessão no país. Eu diria que [a população] está cansada do extremismo”.
Ele reconhece a liderança de Bolsonaro, mas acredita que o ex-presidente deveria ter se reunido com as lideranças locais ao decidir apoiar candidatos a prefeito pelo país. “É por isso que perderam a maioria das capitais, por querer impor uma candidatura sem sintonia com os líderes estaduais. Então, é uma lição. Espero que tanto o PL quanto ele tenham aprendido que liderar não é impor candidaturas nos estados. Não é apenas o PL que é o dono da direita, isso não existe. Ninguém é dono da vontade do povo”.
As últimas eleições mostraram que a esquerda possui um teto – mas o bolsonarismo, de certa forma, também está circunscrito a fronteiras muito específicas. Entre 2018 e 2023, o ex-presidente despontou com o líder incontestável do conservadorismo, agregando embaixo de seu comando praticamente toda a direita.
Porém, desde o início de 2022, quando se enclausurou nos Estados Unidos, Bolsonaro começou a deixar de ser uma unanimidade do lado direito da política. Sem mandato, foi perdendo espaço na imprensa e viu novas lideranças surgirem em seu quadrado, como o deputado Nikolas Ferreira e o ex-coach Pablo Marçal — o desempenho deste último no primeiro turno paulistano, por sinal, mostrou que o direitismo extremo pode atrair votos em quantidade, mas também possui limites de crescimento.
A ascensão de políticos de centro também acabou esvaziando parte da liderança bolsonarista. Os centristas são defensores da inciativa privada, como os integrantes da direita, mas têm uma visão menos conservadora da sociedade e mais pragmática na costura de alianças políticas. Com um discurso de maior maleabilidade, os políticos de centro conseguiram capturar a insatisfação gerada com os conflitos constantes da polarização e se mostraram alternativas viáveis.
Resta saber se esse fenômeno continuará forte até 2026 e quem vai aglutinar as forças centristas e direitistas na eleição presidencial. O governador Caiado disse, em entrevista a MONEY REPORT no primeiro semestre, que ele e os governadores Tarcísio de Freitas, Ratinho Júnior e Romeu Zema se reuniam periodicamente para trocar figurinhas e discutir a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. A ideia seria que, na impossibilidade de Bolsonaro disputar o pleito, um deles emergir como candidato.
Pelo jeito, esse acordo não será cumprido. Caiado disse com todas as letras que entrará na disputa em 2026. “Que eu serei candidato no primeiro turno, serei. E vou trabalhar muito para chegar no segundo. Modéstia à parte, acho que mereço essa chance. Sem desmerecer meus colegas que sairão também. Nós temos aí a melhor safra de governadores, Tarcísio, Zema, Ratinho, Eduardo Leite e outros que poderão se lançar”.
A hipótese de existir esse congestionamento de candidatos, no entanto, é muito pequena. Haverá um alinhamento de interesses e, no máximo, dois deles disputarão o Planalto. A questão, agora, é: quem ficará no páreo? Caiado já disse que fica. Será que Tarcísio também vai encarar este desafio?