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A narrativa de Moro e o futuro da Terceira Via

Começam a surgir pesquisas que colocam Sergio Moro como o candidato de Terceira Via com a melhor posição no ranking das intenções de voto. O Instituto Paraná, por exemplo, aponta liderança de Luiz Inácio Lula da Silva (34,9%), seguido por Jair Bolsonaro (29,2%), Moro (10,7%), Ciro (6,1%). e João Doria (3,1%). Ainda é preciso verificar outros estudos. Mas, se os demais institutos confirmarem essa tendência apontada incialmente, o ex-juiz terá mais intenções de votos que Ciro e Doria somados. Trata-se de uma vantagem considerável.

Vamos supor que as prévias do PSDB venham a apontar o governador Eduardo Leite, e não Doria, como candidato à presidência. Mesmo assim, o resultado da pesquisa provavelmente seria muito parecido, pois a sigla tucana parece ter perdido a densidade eleitoral e deixado de ser o adversário natural do Partido dos Trabalhadores.

Dos três nomes que disputam a preferência do eleitorado para ir ao segundo turno contra Lula ou Bolsonaro, Moro tem um discurso consistente contra os líderes das pesquisas. Trata-se de um juiz que colocou Lula na cadeia e mostrou que o PT estava envolvido em esquemas capitais de corrupção. Ao mesmo tempo, foi ministro de Bolsonaro e afirma ter saído por tentativas de interferência do presidente no comando da Polícia Federal e pela frouxidão do mandatário em combater os corruptos.

Esses são pontos muito concretos que podem ser explorados em uma campanha, pois ligam diretamente o discurso à pessoa. Foi ele quem combateu a corrupção petista e também ele quem trombou com o Planalto. Ciro e Doria, por outro lado, teriam diferenças mais conceituais contra PT e Bolsonaro (embora Doria tenha antagonizado o presidente da República como nenhum outro durante a pandemia, usando a vacinação como argumento na pendenga).

O que parece ser uma fortaleza para Moro, no entanto, também fomenta fragilidade em um eventual segundo turno. Vamos supor que o ex-ministro chegue à etapa final das eleições contra Lula. Teria de contar com o voto do eleitor de Bolsonaro para derrotar o ex-presidente. Conseguirá obter boa receptividade daqueles que o consideram um traidor? Imaginemos, agora, uma situação inversa: Moro contra Bolsonaro no segundo turno. Neste caso, ele teria de contar com os eleitores petistas – os mesmos que o detestam por ter colocado Lula na prisão.

O segundo turno com Moro deve levar-nos a um cenário com enorme possibilidade de abstenções e uma enxurrada de nulos e brancos, exatamente como o que se espera entre um embate entre o atual inquilino do Planalto e o ex.

Ou seja, a candidatura do ex-juiz vem para agradar uma parcela de eleitores (entre 10% e 15 %) que eram fãs da Operação Lava-Jato e não se sentiam representados por nenhum dos candidatos de Terceira Via. Moro, assim, teria um bom cacife na largada da pré-campanha. Mas a dúvida é: ele tem espaço para crescer entre os eleitores?

Todavia, como em política nada ocorre como previsto, é possível que o ex-magistrado ganhe um empurrãozinho de última hora. Há quem aposte, neste sentido, na adesão de Eduardo Leite a essa candidatura caso seja preterido no PSDB. O destino do governador gaúcho seria o da vice-presidência (outro fator que pode impulsionar a campanha de Moro: a adesão do recém-criado União Brasil, que uniria PSL e DEM. Mas isso ainda será bastante discutido nos bastidores).

A entrada de Moro no jogo, de qualquer modo, pode ser considerado o grande fato político do ano. Rapidamente, ganhou espaço na imprensa e se tornou assunto de todas as conversas políticas. Ontem, por exemplo, foi criticado pela direita (Ricardo Salles chamou-o de “comunista”) e pela esquerda (Gleisi Hoffmann disse que era “agente dos EUA”), um sinal de que sua candidatura incomodou. Mas ele conseguirá se manter no centro das atenções?

Um dos problemas principais de Moro é não ser visto como um candidato comprometido apenas com o discurso anticorrupção. Convenhamos: trata-se de um tópico que já foi mais popular. Se esse fosse um problema afligindo a maioria dos eleitores, Lula (acusado de envolvimento no Petrolão, cujo processo voltou à estaca zero) não estaria na liderança das enquetes.

O combate aos corruptos é um tema importante. Mas talvez não esteja tão em evidência como nas últimas eleições. O que domina as discussões, hoje, é a economia. Moro entendeu rapidamente isso e está falando disso dia sim, outro também. Conseguirá convencer aqueles que o enxergam como um candidato monotemático? A ver.

Outra dificuldade está nos exageros cometidos no âmbito da Operação Lava-Jato. Este será um assunto a ser explorado durante a campanha, especialmente junto às classes altas, pois pode gerar discussões infindáveis sobre o Estado de Direito.

Neste momento, as candidaturas de Ciro e Doria (ou Leite) ficaram ofuscadas pela entrada de Moro no jogo. Mas não devemos esperar desânimo ou inércia por parte dos dois (ou três). Eles continuarão procurando aumentar seu espaço entre os eleitores. Mas, como farão isso?

A tentação natural é falar mal do ex-juiz, em um clássico movimento que é tentar roubar votos predestinados ao adversário. Contudo, essa estratégia pode ser ruim na eventualidade de um segundo turno. A cautela no discurso será a tônica do discurso da Terceira Via daqui para frente, especialmente entre Moro e Doria. Respeito entre os dois há. Mas um renunciaria em favor do outro? Dificilmente.

Este pode ser o destino dos candidatos que ficaram espremidos entre os extremos: dividir um bolo que, somado, poderia valer um posto na etapa final das eleições. Porém, ainda está muito cedo para se falar em união em torno de um só nome – se é que isso vai ocorrer. O fato é que, se não houver um crescimento rápido destes candidatos independentes, a decisão vai ficar mesmo entre Lula e Bolsonaro.

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