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A violência sutil invocada na live de Bolsonaro

Presidente alimenta polarização pós-eleitoral com doses de paranoia e ilegalidade nas entrelinhas de sua mensagem

O pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (PL) em redes sociais nesta quarta-feira (2), quando pediu para que seus apoiadores desobstruíssem as rodovias federais, foi menos politicamente pacífico nas entrelinhas do que pareceu. Mesmo afirmando que “é preciso respeitar o direito de ir e vir das pessoas” e que os protestos prejudicam a economia do Brasil, ele indicou caminhos aos seus apoiadores mais radicais. Em nenhum momento disse que o resultado foi legítimo, como fez no dia anterior, assim indicando que sua turma praticava ilegalidades.

A pedido de MONEY REPORT, antropóloga Adriana Dias analisou a breve declaração de 2 minutos e 41 segundos. Pesquisadora dos movimentos de extrema direita no Brasil, em especial os neonazistas, ela considera que que a temperatura continuará elevada por causa dos “apitos de cachorro” (do inglês dog-whistle politics), mensagens políticas com linguagem comum para a população geral, mas de significado específico para determinados grupos.

Imitando Trump

Em três momentos o presidente deu corda aos radicais: “Fiquem à vontade… Vocês estão se manifestando espontaneamente” (1m30s); “Eles (a Polícia Rodoviária Federal, a PRF] têm feito um trabalho de tentar desobstruir, mas são muitos pontos e as dificuldades são enormes” (1m40s); e “O pedido é rodovias. Vamos desobstruir para o bem da nossa nação e para que nós possamos continuar lutando por democracia e liberdade” (2m26s). No primeiro, libera a turma para continuar; no segundo, indica que a PRF não consegue derrubar todos os bloqueios de uma vez; e finalmente, que é preciso seguir discordando do resultado das urnas, algo que pregou desde o início da campanha, a exemplo do que fez Donald Trump nos Estados Unidos, nutrindo a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, após sua derrota em um pleito legítimo.

Para Dias, o presidente brasileiro derrotado nas eleições também aproveita o momento para alimentar sua militância com uma fantasia perigosa. “Não há falta de liberdade de expressão nem de liberdade religiosa. Bolsonaro está convencendo essas pessoas a lutar por algo que não está em falta no Brasil. É uma loucura”, diz. “É como se ele dissesse, ao citar ‘as quatro linhas da Constituição’, que ele não pode lutar no momento, mas que os outros podem”, completa. Essa inversão lógica, acusando a reação aos discursos de ódio como um cerceamento da liberdade de expressão e censura, foi importado do cristianismo branco radical que viceja nos Estados Unidos e está na mira das autoridades. Um exemplo são os Proud Boys, que viraram grupo terrorista no Canadá.

Triunfo da vontade

A antropóloga e colegas acompanham comunidades radicais nas redes, como a pequena Sul Independente Milícia (709 membros) e outras em aplicativos de mensagens menos patrulhados, como o Parler e o Locals. É neles e no WhatsApp que o recado de Bolsonaro é anabolizado com preconceitos contra nordestinos e outros temas de enfrentamento caros à agenda ultraconservadora, como ideologia de gênero, feminismo e acesso às armas.

O melhor do pior veio da pequena São Miguel do Oeste, interior de Santa Catarina, onde uma multidão (imagem de destaque e no vídeo abaixo) ergueu os braços direitos acima do nível do ombro em um protesto contra as eleições na tarde de Finados (2), deturpando a execução do hino nacional com um ilegal e coletivo “sieg heil” (salve a vitória) nazista. Civis brasileiros devem manter os braços rente ao corpo e com a cabeça descoberta durante a execução do hino, estipula a lei. Até a mão no peito é incorreta. Já o gesto parecido de braço erguido a 90 graus do tronco em direção à bandeira só serve para cerimônia militar de juramento. Assim, um bando de brasileiros desinformados e manipuláveis reencenou um trecho de “O triunfo da vontade”, documentário-propaganda de Leni Riefenstahl sobre 6° Congresso do Partido Nazista, a cidade alemã de Nuremberg, em 1934. O Ministério Público catarinense (MP-SC) abriu investigação.

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