Na semana do encontro dos Brics em Brasília, as relações comerciais entre Brasil e China têm sido exaustivamente debatidas. Na entrevista a seguir, concedida com exclusividade a MONEY REPORT, Paulo Estivallet de Mesquita, embaixador do Brasil na China, fala sobre parcerias econômicas, investimentos e áreas que mais interessam aos chineses. Confira:
Qual foi o impacto da visita do presidente Jair Bolsonaro à China para as relações comerciais entre os países?
Na verdade, considero que 2019 foi o ano de consolidação das relações bilaterais Brasil-China. Foi um esforço conjunto de ministros e governadores. Houve eventos importantes, como a visita do vice-presidente Hamilton Mourão à China para participar da Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação). E também o Brasil sediou no Rio de Janeiro o encontro dos chanceleres de ambas nações, em julho, para falar de planejamento estratégico global. Então, a visita de Bolsonaro e a realização dos Brics coroam um bom ano nas relações sino-brasileiras.
Muitos empresários brasileiros têm demonstrado interesse em se aproximar da China. Isso fortalece os laços com o principal parceiro comercial brasileiro?
Sem dúvida. Do lado da China, que é um grande comprador no Brasil, eles esperam contar com bom planejamento e segurança na parceria comercial. Já do lado brasileiro devemos considerar que os chineses querem regras amigáveis para investir.
Quais são as áreas de interesse dos chineses?
A China investe nos setores de eletricidade, infraestrutura, gás e petróleo no Brasil. À medida em que novos marcos regulatórios surgirem, teremos novos investimentos em transporte, portos e energia. Os chineses também estão comprando muita carne brasileira. É um mercado em alta, competitivo, mas que exige qualidade e bons preços.
O governador de São Paulo, João Doria, inaugurou um escritório em Xangai para desembaraçar projetos comerciais. Qual será o impacto da iniciativa?
Será positivo. Xangai é um grande polo econômico e comercial da China. Além de João Doria, houve iniciativas parecidas de governadores do Nordeste, que pretendem se unir e criar um escritório similar. Outra ação importante foram as missões econômicas organizadas por governadores e empresários para o país asiático.
A economia da China continua crescendo, mas o ritmo desacelerou. Isso deve ser motivo de preocupação?
A China ainda é um grande destaque da economia mundial, um mercado muito competitivo, que demanda produtos de alta qualidade. Tudo indica que será o nosso principal mercado por muitos anos.
Qual será o impacto para o Brasil da guerra comercial entre Estados Unidos e China.
A guerra comercial aumenta as incertezas. Em certos momentos, o Brasil pode até se beneficiar. Por exemplo, com o aumento da venda de soja, como ocorreu em 2018. Mas isso não é sustentável. Para o Brasil, é melhor quando há estabilidade no cenário global.
Entre hoje e amanhã, acontece a 11ª Cúpula do Brics em Brasília. Qual é a importância deste evento?
Os Brics estão completando dez anos. Nesse período, os países criaram diversas iniciativas na área de economia, no comércio, na captação de investimentos, na ciência, tecnologia e até ampliaram a cooperação cultural. Um exemplo relevante é o Banco de Desenvolvimento dos Brics, que teve ótimos resultados. Desta vez, o encontro bilateral entre o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e o chinês, Xi Jinping, deve tranquilizar os empresários de ambas as nações, criando um ambiente favorável para negócios e investimentos. Neste ano, o foco dos Brics será inovação, um dos motores de crescimento econômico.