MONEY REPORT escolheu como a Fake News da Semana não só uma, mas as dezenas de informações falsas e distorcidas que o presidente da República e pré-candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), repetiu ao atacar a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro em reunião com embaixadores estrangeiros, na segunda-feira (18). O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou uma lista rebatendo vinte alegações do mandatário.
As 20 respostas do TSE:
Alegação 1: Apenas dois países do mundo usam sistema semelhante ao brasileiro
Esclarecimento: além de Brasil, Butão e Bangladesh, outros países usam urnas sem voto impresso. Alguns estados americanos também as adotam.
Alegação 2: Um hacker teve acesso a tudo dentro do TSE
Esclarecimento: tentativa de ataque hacker ao TSE não viola segurança das urnas.
Esclarecimento 2: é falso que um hacker teria atacado sistema de votação no 1º turno das eleições municipais de 2020.
Esclarecimento 3: hacker algum desviou votos das urnas eletrônicas nas eleições presidenciais de 2018.
Alegação 3: “Um hacker poderia excluir nomes de candidatos“
Esclarecimento: a entrevista com hacker preso é pura desinformação, já que as urnas não podem ser manipuladas via internet.
Alegação 4: “Logs foram apagados“
Esclarecimento: o TSE esclarece acerca de inquérito que apura ataque ao sistema interno.
Alegação 5: “O PSDB disse que sistema é inauditável“
Esclarecimento: uma auditoria contratada pelo PSDB não encontrou fraude nas eleições de 2014.
Alegação 6: “O TSE não imprime voto mesmo com recomendação da Polícia Federal“
Esclarecimento: não é verdade que o TSE se nega a cumprir lei que determina impressão do voto.
Alegação 7: “Observadores internacionais não conseguirão analisar a integridade do sistema, pois não há voto impresso“
Esclarecimento 1: organismos internacionais especializados em observação, como OEA e IFES, já iniciaram análise técnica sobre a urna eletrônica. Neste pleito, contarão com peritos em informática com acesso ao código-fonte e todos os elementos necessários para avaliação da transparência e integridade do sistema eletrônico de votação.
Alegação 8: “O ministro Fachin resolveu tornar Lula elegível“
Esclarecimento: o ministro Luiz Edson Fachin ficou vencido no tema da execução da pena após a condenação em segunda instância e na competência da Justiça Eleitoral para julgar as ações oriundas de grandes esquemas de corrupção. Superado, no entanto, não se furtou em aplicar a posição consolidada pelo Plenário. Sobre o tema do habeas corpus do ex-presidente, na semana anterior a que o ministro Fachin proferiu sua decisão, foi aplicado o mesmo entendimento para deslocar a competência de uma investigação relacionada à Transpetro.
Alegação 9: “O ministro Barroso indevidamente acusou Bolsonaro de vazar o inquérito sigiloso, quando ele não era sigiloso“
Esclarecimento: a corregedoria da PF afirmou que o inquérito era sigiloso pelo fato de ainda estar aberto.
Alegação 10: Uma empresa terceirizada conta os votos
Esclarecimento 1: o sistema de totalização é feito no TSE e apresentado às entidades fiscalizadoras com um ano de antecedência, bem como é mantido lacrado em cerimônia pública.
Alegação 11: “Fachin diz que auditoria não serve para questionar resultados”
Esclarecimento: a frase foi retirada de contexto.
Alegação 12: “Fachin foi advogado do MSTM, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra“
Esclarecimento: o ministro Luiz Edson Fachin nunca foi advogado do MST.
Alegação 13: “O próprio TSE afirmou que em 2018 números podem ter sido alterados”
Esclarecimento: o TSE jamais emitiu tal informação.
Alegação 14: “O TSE não acolheu as sugestões das Forças Armadas”
Esclarecimento 1: mais de 70% das propostas da Comissão de Transparência das Eleições (CTE) foram acolhidas para as eleições 2022.
Esclarecimento 2: há aprimoramentos do processo eleitoral a partir das sugestões da CTE.
Esclarecimento 3: há entidades que podem fiscalizar e auditar o processo eleitoral.
Esclarecimento 4: o TSE afirma que há um inquérito que apura ataque ao sistema interno.
Alegação 15: “Inconstitucionalidade do voto impresso“
Esclarecimento 1: o voto impresso é menos seguro que o eletrônico e significará “usina de problemas”, avalia o ministro Barroso.
Alegação 16: Supercomputador
Esclarecimento1: o supercomputador do TSE não se vale de um serviço de nuvem terceirizado.
Esclarecimento 2: foi emitida uma nota de esclarecimento sobre nuvem para contabilizar votos
Alegação 17: “A urna autocompleta voto“
Esclarecimento: form emitidos esclarecimentos sobre informações falsas veiculadas nas eleições 2018. Depois foi descoberto que o vídeo apresentado como prova era apenas um caso em que o eleitor apertou o botão errado.
Alegação 18: “Transparência do voto”
Esclarecimento: os resultados das eleições e os boletins de urna estão disponíveis para consulta no Portal do TSE.
Alegação 19: “Confiabilidade do sistema eleitoral“
Esclarecimento 1: Fachin fez balanço do semestre e destacou o diálogo institucional com Poderes da República.
Esclarecimento 2: a auditoria do TCU concluiu que não há riscos relevantes à realização das Eleições 2022.
Alegação 20: “A Polícia Federal disse que o TSE é um queijo suíço, como uma peneira“
Esclarecimento: a Justiça Eleitoral não tem conhecimento de tal afirmação feita pela Polícia Federal.
Além das respostas do TSE, outras alegações de Bolsonaro desmascaradas:
Alegação 21: “Fiz uma campanha sem recurso…“
Falso: Bolsonaro diz ter conseguido se eleger à presidência da República em 2018 sem dinheiro, o que não é um fato. De acordo com o extrato oficial da prestação de contas da Justiça Eleitoral, o candidato arrecadou R$ 4.390.140 em doações para a campanha, dos quais R$ 2.456.215 foram gastos. A soma foi bastante inferior à de seu rival no segundo turno, Fernando Haddad (PT), que despendeu R$ 33,6 milhões.
Alegação 22: “É impossível fazer uma auditoria em eleições aqui no Brasil“
Falso: a Justiça Eleitoral permite que os sistemas de votação sejam requisitados para análise e verificação a qualquer momento. Segundo o TSE, é possível fazer auditorias pré e pós-eleição dos códigos-fonte do sistema da urna eletrônica e da votação.
Alegação 23: “Em 2018, o eleitor simplesmente não conseguia votar. Ou quando ele apertava o número 1, e depois ia apertar o número 7, aparecia o 3 e o voto ia pra outro candidato”
Falso: Bolsonaro recicla uma desinformação sobre um vídeo que circulou durante as eleições de 2018, após o primeiro turno. A gravação sustentava que algumas urnas teriam completado automaticamente o número do candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad. O Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) analisou as imagens e concluiu que se tratava de uma montagem. O vídeo em questão também tinha claros indícios de edição, segundo diversos sites de checagem como Lupa e Aos Fatos.
Alegação 24: “Alimentamos mais de 1 bilhão de pessoas pelo mundo com o nosso agronegócio”
Falso: um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) publicado em março de 2021 aponta que a produção e a exportação de grãos e de carne bovina brasileira foi responsável pela alimentação de 772,6 milhões de pessoas em todo o mundo em 2020, o que corresponde a cerca de 10,5% da população mundial — é falso, portanto, que o Brasil alimente 1 bilhão.
Alegação 25: “Como já aconteceu comigo: botaram numa página minha, no Facebook, uma matéria de revista falando sobre AIDS e vírus, covid, ele achou que aquilo é fake news e tá me processando”
Falso: Bolsonaro faz menção a um episódio ocorrido em outubro de 2021, quando difundiu em live a desinformação de que vacinas aumentariam o risco de infecção pelo HIV. Apesar de ter afirmado na época que estaria lendo o título de uma matéria da revista Exame, o presidente apareceu na transmissão ao vivo lendo o print de um texto do blog Before It’s News, conhecido por propagar desinformação. Não há, ao longo da live, menção à revista Exame, que em 2020 veiculou informações sobre um artigo publicado no periódico científico Lancet sobre a possível relação entre um tipo específico de adenovírus usado em algumas vacinas contra a covid-19 e uma maior chance de infecção pelo HIV. O texto, no entanto, além de não ser conclusivo, citava apenas o adenovírus de número 5, usado em vacinas não aprovadas no Brasil, como a Sputnik V.
Alegação 25: “Garantimos a segurança alimentar para mais de 20% da população mundial“
Falso: o presidente sugere que 20% da população mundial seja alimentada com produtos agropecuários brasileiros, o que é falso. A Embrapa aponta que a produção brasileira foi responsável por alimentar 772,6 milhões de pessoas em 2020, o que corresponde a cerca de 9,78% da população mundial, usando como base a estimativa de 7,898 bilhões de habitantes no mundo.