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As contradições de Palocci

A delação do ex-ministro Antonio Palocci, que hoje chega à imprensa, tem tudo para ser uma elaborada peça de ficção, já que foi engendrada sob o peso de dois anos de prisão nas costas, com a perspectiva de encarar mais uma década de xadrez.

O que faz da delação de Palocci suspeita? Quando se observa o ranking dos dez maiores bancos brasileiros, o ex-ministro deixou apenas a Caixa Econômica e o Santander (único estrangeiro da lista) de fora. E encontrou uma história para cada uma das instituições que estão entre as principais do país, incluindo o Banco do Brasil, estatal. Ora, a lógica da propina é beneficiar poucos personagens dentro de um determinado mercado – nunca a maioria dos principais players. Para Palocci, no entanto, 8 entre os 10 gigantes financeiros tinham relações escusas para receber benesses e privilégios. Isso desafia o senso comum.

Há contradições aqui e ali, como aponta a reportagem de O Globo que trata do assunto no dia de hoje.

Mas um detalhe em especial chama a atenção. O ex-ministro afirma que os bancos queriam saber com antecedência as mudanças na política de taxas de juros. E caberia a ele, enquanto titular da Fazenda, e a Guido Mantega, seu sucessor, a função de antecipar aos banqueiros a flutuação dos juros, para que as instituições financeiras tivessem lucros no mercado financeiro.

Há três furos neste raciocínio.

O primeiro é que, nestes oito anos de governo Lula aos quais Palocci se refere, quem arbitrava a flutuação da Selic era o Banco Central e não o Ministério da Fazenda. Henrique Meirelles, o presidente do Banco Central, teria estranhado a curiosidade dos ministros petistas em saber o percentual de alta ou baixa nos juros às vésperas de cada mudança. Além disso, estas flutuações têm de passar pelo Copom, que reúne cerca de quinze diretores do Banco Central – e, nessas votações, há surpresas.

Em segundo lugar, dificilmente um ministro de Estado teria condições de passar frequentemente informações privilegiadas para oito banqueiros sem que isso vazasse de alguma forma. Ou seja, altamente improvável.

Por fim, no mercado financeiro, para alguém ganhar precisa existir um perdedor. Se oito dos dez maiores bancos estivessem de posse de informações privilegiadas quem estaria na ponta oposta? O mercado dificilmente teria liquidez. Outro ponto: se um grupo de instituições financeiras sempre ganhasse em suas apostas no mercado futuro, a Comissão de Valores Mobiliários não acharia estranho? Claro que sim.

Palocci demorou para estabelecer um acordo de delação premiada. Quando resolveu abrir o bico, muito do que poderia contar já havia sido divulgado por outros delatores. Restou a ele apelar à imaginação. Na base do “se colar, colou”. Conseguirá ele provar estes relatos? De difícil para impossível.

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