Erros de avaliação denotam inexperiência e, sobretudo, ausência de aconselhamento político. É como se o candidato do Podemos estivesse sozinho
A tentativa de Sergio Moro (Podemos) alçar voo já em seu debut ao cargo mais elevado da República esbarra em questões que de repente se amontoam e minam suas ambições. Doravante, dependerá quase apenas como o ex-juiz da Lava-Jato e ex-ministro da Justiça reagirá na defensiva política – uma posição oposta a que estava ambientado quando no Judiciário e no Executivo.
Inimigo do bolsonarismo, a qual denunciou, e da esquerda por causa da condenação de Lula, Moro vê seu capital ameaçado por seus erros na Lava-Jato, brechas abertas na vida civil e pela ação dos adversários. Nada fora do roteiro. O que surpreende é a proporção que as críticas tomaram a partir de ontem, sexta-feira (4), quando o subprocurador-geral do Tribunal de Contas da União (TCU), Lucas Furtado, pediu a indisponibilidade cautelar dos bens de Moro, por suspeita de sonegação de impostos nos pagamentos recebidos da consultoria Alvarez & Marsal. Ele recebeu R$ 3,5 milhões (US$ 656 mil) durante a vigência de seu contrato nos Estados Unidos, entre 23 de novembro de 2020 e 26 de novembro de 2021.
O Ministério Público do TCU quer uma investigação sobre o mecanismo de remuneração em busca de supostas irregularidades. O pedido é munição de qualidade para os demais presidenciáveis e desafetos. Ainda mais que a denúncia evidencia um passo em falso há muito alertado. Entre todas as consultorias, Moro foi atuar justo naquela que cuida de pendengas de empresas condenadas pela Lava-Jato. De acordo com a Folha de S.Paulo, a Alvarez & Marsal recebeu ao menos R$ 65 milhões de empresas processadas no âmbito da operação anticorrupção, o que representaria 78% do faturamento de seu departamento de administração judicial entre 2013 e 2021.
Revanches
Ainda que alegue não ter atuado nestes casos – o que até agora não foi contradito -, em termos políticos foi uma barbeiragem custosa e desnecessária. Ainda mais depois que boa parte de suas condenações contra Lula e outros foram anuladas e Moro foi considerado parcial pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Parte dos julgamentos recomeçará do zero, outros foram extintos.
Investigado na Lava-Jato por supostamente ser operador financeiro do esquema de propinas da Odebrecht e ex-integrante da lista da Interpol, o advogado Rodrigo Tacla Duran aproveitou para apresentar em rede social uma nota fiscal de Moro (abaixo) para uma consultoria de engenharia, o que configuraria o tipo de irregularidade que o TCU deveria buscar. Tacla Duran reside na Espanha desde 2016 e acusa o agora candidato de corrupção quando magistrado.
Para piorar, Moro mostra que não lida tranquilamente com obstáculos. Se por meio do Twitter reagiu urbanamente, em nota pública rebateu forte. Na noite de ontem (4), declarou ser vítima e que irá exigir na Justiça uma indenização do subprocurador Furtado e do MP do TCU. Em um trecho, alegou: “Fica evidenciado o abuso de poder perpetrado por este procurador do TCU. Pretendo representá-lo nos órgãos competentes, como já fez o senador da República, Alessandro Vieira [Cidadania], e igualmente promover ação de indenização por danos morais. O cargo de procurador do TCU não pode ser utilizado para perseguições pessoais contra qualquer indivíduo”. Seria menos complicado e denotaria transparência apenas abrir as contas.
Os argumentos de Moro fizeram a alegria da esquerda, ávida por uma revanche contra o ex-juiz, enquanto os bolsonaristas, ciritas e tucanos se aquietam, esperando absorver parte dos 10% de votos que ele teria, de acordo com a mais recente pesquisa eleitoral, divulgada na quarta-feira (2). Para piorar mais um pouco, o candidato do Podemos deixou mais um flanco escancarado ao, supostamente, escolher para cuidar das doações de campanha o amigo e advogado Luis Felipe Cunha – que também convocaria a turma do jurídico e da comunicação. O problema é que Cunha já defendeu a Petrobras justo na 13ª Vara Federal de Curitiba, onde Moro atuou. Esse longa sequência de erros de avaliação denota inexperiência e, sobretudo, ausência de aconselhamento político. É como se o candidato novato estivesse sozinho.
O que MONEY REPORT publicou
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