O presidente Jair Bolsonaro voltou a subir o tom das críticas aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Para ele, se os magistrados podem jogar fora as quatro linhas da Constituição, ele poderá fazer o mesmo: “Não precisamos sair das quatro linhas da Constituição, mas podemos jogar fora essas quatro linhas caso seja necessário”. A nova crítica foi proferida em Tanhaçu (BA), na assinatura da concessão da Ferrovia Integração Oeste Leste (Fiol), nesta sexta-feira (3).
Porém, Bolsonaro parece mais alimentar o entusiasmo de seus apoiadores para as manifestações de 7 de setembro do que necessariamente atentar contra a corte e a democracia – apesar de nada disso ser esperado de alguém na sua posição. Vale lembrar que o pedido de impeachment encaminhado contra o ministro Alexandre de Moraes foi rejeitado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o que forçou um recuou antes de tentar o mesmo contra o ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso.
Referências à Constituição não são uma novidade para o presidente – ainda que tortas. Em 20 de abril de 2020, Bolsonaro chegou a afirmar que era a Constituição, uma referência a Luís XIV, o rei francês absolutista que teria dito ser a encarnação do estado (L’État c’est moi”). “Não podemos admitir que uma ou duas pessoas [Barroso e Moraes], usando da força do poder, queiram dar outro rumo ao nosso país. Curvem-se à Constituição, respeitem a nossa liberdade e entendam que vocês dois estão no caminho errado, porque sempre há tempo de se redimir”, disse o presidente. Pedir aos integrantes do Supremo que se curvem perante a Constituição soa um contrassenso, já que suas decisões estão amparadas pela mesma e nada indique claramente o contrário.
Preocupantes em si, as raízes dos atos de 7 de setembro parecem mais alegóricas, já que não haveria condições políticas para uma aventura desse calibre em uma país democraticamente maduro e com boa parte das classes empresarial, política, sindical e militar contrariadas. Porém, Bolsonaro não desiste de sua natureza , ainda mais quando as investigações chegando perto de seus filhos Carlos e Jair Renan, que não possuem foro privilegiado como os irmãos Flávio e Eduardo, respectivamente senador e deputado estadual.