Escolha para liderança no Pará levanta dúvidas sobre a legenda. Pré-candidato a vereador em Medicilândia, Darci Alves Pereira foi desfiliado, mas o estrago estava feito
Após ter perdido a presidência do PL em Medicilândia (PA), o pastor Darci Alves Pereira (à esquerda), condenado em 1990 a 19 anos de prisão pelo assassinato de Chico Mendes, será desfiliado do partido. O anúncio foi feito pelo presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto. A assessoria de Valdemar não esclareceu se o pedido de desfiliação partiu dele ou de Darci. A decisão foi tomada após a revelação de que Darci, assassino confesso do líder ambientalista, havia assumido o cargo no final de janeiro.
Hoje conhecido como Pastor Daniel, Darci se apresentava nas redes sociais como pré-candidato a vereador em Medicilândia sem a menor cerimônia. Em nota, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse que não tinha conhecimento do crime cometido por Darci/Pastor Daniel e que a decisão de destituí-lo foi tomada após a imprensa trazer o caso à tona. Na esteira há também sérias dúvidas sobre os processos de filiação ao PL – pelo menos no Pará. Como qualquer outra entidade política, o partido deveria tomar medidas para evitar pessoas com histórico de crimes graves em sua fileiras, ainda mais os que assumem cargos de liderança.
A repercussão e as críticas ao PL se acumulam com a volta de Darci à cena pública. A morte de Chico Mendes foi um marco na luta pela preservação da Amazônia e a presença de seu assassino foi vista como um desrespeito à memória do ambientalista – sem contar que o partido se mostrou grande opositor à preservação da floresta na figura do ex-presidente Jair Bolsonaro durante seu mandato (2019-2022).
A situação colocou Valdemar Costa Neto em uma posição difícil. Ele precisa lidar com a pressão da opinião pública e, ao mesmo tempo, manter a coesão da sigla em um momento delicado, com investigações recaindo sobre Jair Bolsonaro e seu núcleo poder na Presidência. O próprio Valdemar acabou preso por porte ilegal de arma e posse de uma pepita de ouro procedente de garimpo ilegal, o que deve complicar sua vida judicial em breve.
Morte de Chico Mendes
Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes, foi morto com um tiro de escopeta em 22 de dezembro de 1988. Ele nasceu em Xapuri, no Acre, e ficou conhecido pelo seu trabalho em defesa do meio ambiente e das populações tradicionais, como pequenos proprietários e seringueiros.
O fazendeiro Darly Alves da Silva e seu filho Darci Alves Ferreira foram condenados a 19 anos pela morte do ambientalista em 1990. Os criminosos chegaram a fugir da cadeia em 1993, mas foram recapturados em 1996.
Darly Alves deixou a prisão em 1999 para cumprir pena em regime domiciliar. No mesmo ano, Darci recebeu o benefício para cumprir o restante da pena em regime semiaberto. A partir daí, virou pastor evangélico, assumiu o apelido de Daniel e resolveu tentar a vida política como se nada fosse.