Vamos imaginar duas explicações para a pinimba entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Recapitulando os últimos lances: Bolsonaro pediu ao STF que fosse instaurado um inquérito contra Moraes, por conta de cinco supostos crimes de abuso da autoridade. Ao ter seu pedido de inquérito indeferido pelo juiz Dias Toffoli, utilizou outro caminho para cutucar Moraes – o da Procuradoria-Geral da República.
A primeira explicação: o presidente é um gênio da manipulação política e está cinco casas à frente de todos.
Para entender este raciocínio, é preciso lembrar que Moraes será o próximo presidente do Tribunal Superior Eleitoral e vai comandar a organização das eleições. Além disso, temos de recordar também que Bolsonaro já vinha batendo de frente com o tribunal desde o ano passado, dizendo que o sistema eletrônico de votação não é confiável (sem demonstrar nenhuma prova desta tese). Ao colocar a parcialidade do magistrado em dúvida, Bolsonaro cria uma explicação antecipada para seu comportamento caso perca as eleições.
Com isso mata dois coelhos com uma cajadada só: se previne contra um eventual dissabor em 2022 e, de quebra, brilha para os apoiadores mais fiéis, que não suportam o ministro nomeado por Michael Temer.
A segunda explicação é menos elaborada. Bolsonaro seria um indivíduo destrambelhado, que não sabe a hora de parar um conflito.
Qual das duas explicações faz mais sentido?
Talvez uma combinação das duas.
O presidente está agitando suas redes e criando um clima pesado semelhante ao de Donald Trump em 2020 nos Estados Unidos. Sua tática é deixar a militância mobilizada para insuflar a polarização política com Luiz Inácio Lula da Silva. Para isso, vale tudo – até insinuar que é possível jogar fora das quatro linhas do campo, o que provoca verdadeiros orgasmos por parte de seus apoiadores mais radicais.
Moraes, até agora, vem respondendo aos ataques do presidente e, pelo jeito, não vai abaixar a cabeça. Neste conflito em que nenhum dos dois contendores parece ter disposição de recuar, até onde vai a briga?
Bolsonaro vem repetindo um comportamento desde que assumiu a presidência – ele testa sistematicamente os limites dos outros poderes, dos inimigos e até de seus aliados. Estará fazendo a mesma coisa agora? É possível.
Mas será que o presidente está flertando com o autoritarismo ao colocar a lisura das eleições em dúvida? Pode existir essa vontade. Mas, até agora, esse tipo de arroubo vem sendo controlado pela elite militar e por outras autoridades.
O ministro Alexandre de Moraes tem sido aconselhado a manter a cabeça fria – mas sabe-se que, neste quesito, ele às vezes deixa a desejar.
Os bombeiros de plantão – Arthur Lira, Ciro Nogueira e Fábio Faria – estão em campo para amenizar os ânimos. E sempre existe a possibilidade de se chamar para esse time o ex-presidente Michel Temer, que já botou panos quentes em uma crise que ficou no passado. Portanto, no que depender do Centrão – quem de fato manda no país – a contenda será controlada antes que seja tarde. Apesar da vontade expressa dos dois combatentes em não fugir do ringue.