O delírio da semana envolveu maçonaria, Jair Bolsonaro, general de pijama defensor de ditadura e teoria conspiratória
MONEY REPORT escolheu como a Fake News da Semana a imagem que circula pelas redes sociais mostrando o presidente Jair Bolsonaro (PL) e membros da maçonaria posando próximos a um quadro de Baphomet – criatura mística pagã que costuma ser associada ao demônio e figura recorrente no imaginário associado ao satanismo. Trata-se de uma montagem na tentativa de desqualificar o presidente junto ao eleitor evangélico de linha neopentecostal, que considera a luta contra o mal (na forma do diabo) uma tarefa de todo o cristão. No registro original não há quadros, apenas a parede branca e duas bandeiras, uma nacional e outra da loja maçônica Grande Oriente do Brasil – Distrito Federal. A foto é de março de 2014.
À época, o general já na reserva Augusto Heleno, atual ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), proferiu uma palestra na entidade defendendo o “movimento militar de 1964” — eufemismo usado para se referir à ditadura. Bolsonaro participou do evento, como indica a imagem publicada pela organização na ocasião. E só.
Que bicho é esse?
Baphomet é figura recorrente ao longo dos séculos quando se tratam de fraudes, montagens e teorias conspiratórias. A mais famosa é a primeira. Em 1307, o rei francês Felipe IV, o Belo, acusou os Cavaleiros Templários de heresia e adoração ao diabo por intermédio do demônio Baphomet – o episódio é bem retratado no romance histórico O Rei de Ferro (1955), de Maurice Druon, autor da série Os Reis Malditos (1955-1977). Foi um golpe com o apoio do Papa Clemente V para acabar com as dívidas da coroa junto à ordem religiosa e tomar suas terras e riquezas. A criatura simbólica também aparece em textos antimaçônicos, como a Fraude de Taxil (1890), e esotéricos ocultistas, como Dogma e Ritual da Alta Magia (1854), de Elifas Levi, e Os Livros Sagrados de Thelema (1911), de Alester Crowley. Apesar de algumas associações ao deus romano Pã, há referências e simbologias mais amplas e contraditórias envolvendo hermafroditismo, virilidade masculina, paganismo, prosperidade, dualismo, sabedoria e expiação dos pecados.
A etimologia de seu nome é incerta, mas pode estar relacionada a corruptelas tanto com o deus fenício Baal quanto o profeta do islã, Maomé. Ou seja, Baphomet se presta a tudo e a nada, ganhando até participação no enredo de O Código Da Vinci, de Dan Brown, alguns álbuns de black metal e na série do Netflix O mundo sombrio de Sabrina (imagem). Nos Estados Unidos há um Templo Satânico, em Detroit, onde o ser místico ganhou uma estátua de bronze de 2,7 metros – ao custo de US$ 10 mil. Só uma coisa é certa. Sua efígie de bode (cão, touro e asno, reparem) não estava na parede acima do general aposentado que defendeu uma ditadura, o tipo de regime que reprenderia uma instituição como a maçonaria se achasse conveniente.