Num longínquo outubro de 1990, o piloto Ayrton Senna trombou sua McLaren na Ferrari do rival Alain Prost logo na primeira curva após a largada do Grande Prêmio do Japão. Com o abandono dos dois pilotos, Senna sagrou-se bicampeão de Fórmula 1 (este episódio tem um contexto rico e complexo, que deixarei de fora em favor da narrativa) e Nelson Piquet ganhou a prova. Mais tarde, Piquet diria: “Se Prost freasse, Senna passaria reto, pois ele entrou naquela curva para bater”.
Essa frase me veio à cabeça enquanto acompanhava mais um capítulo da pendenga entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral sobre o voto impresso. A impressão que surge, nessa polêmica, é que se Barroso frear, Bolsonaro seguirá em frente e não conseguirá fazer a curva.
Ou seja, se Barroso aceitar o voto impresso ou mostrar um upgrade tecnológico que torne inquestionável a capacidade de auditoria do atual sistema eleitoral brasileiro, muito provavelmente o presidente ficará sem ter o que dizer.
Bolsonaro gosta de uma pendenga. Mas, neste caso, será que ele quer mesmo o voto impresso ou apenas tenta melar o jogo antes que ele comece?