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Biden vai ganhar mesmo?

A poucos dias da eleição americana, o democrata Joe Biden parece consolidar sua vantagem em cima de seu oponente, o presidente Donald Trump. Segundo as últimas pesquisas, essa dianteira está oscilando entre nove e dez pontos nas intenções de voto. No pleito americano, no entanto, existe a possibilidade de ser vencedor nas urnas e não levar a presidência. Isso aconteceu, por exemplo, com Hillary Clinton e Al Gore. Tiveram mais sufrágios que Donald Trump e George W. Bush, mas perderam no colégio eleitoral.

Isso ocorre por conta das regras vigentes nos Estados Unidos. Se o candidato ganhar em uma unidade da Federação leva todos seus votos (há apenas duas exceções: Maine e Nebraska, onde os delegados são divididos proporcionalmente de acordo com o resultado nas urnas). Com esse sistema, é possível ter menos votos no total, mas amealhar o número necessário no colégio eleitoral – 270 delegados.

Na última eleição, Hillary obteve uma vantagem de 2,1 % nas cabines de votação, mas foi derrotada por obter menos representantes no corpo deliberativo. Já George W. Bush ganhou de John Kerry com uma dianteira muito semelhante nas urnas (2,4 %), distribuída de forma que lhe garantiu o maior número de delegados.

Apesar da grande vantagem dos democratas, ainda há estados nos quais a disputa está apertada e podem mudar o resultado em favor de Donald Trump.

Os republicanos olham com desconfiança para o favoritismo de Joe Biden – e têm uma certa razão em fazer isso. Como a imprensa americana em peso (tirando a Fox News) apoia o Partido Democrata, percebe-se certa má vontade em relação aos republicanos em todas as campanhas eleitorais. Muitas vezes, porém, o resultado é favorável ao partido vermelho. No caso de Trump, um presidente que passou boa parte de seu mandato brigando com alguns veículos, essa rixa se acentuou.

Some-se a isso o fato de que as pesquisas em 2016 indicavam uma grande vantagem de Hillary Clinton, por volta de cinco pontos percentuais. Quando os votos foram contados, porém, o que se viu foi uma dianteira de 2,1%, insuficiente para garantir o triunfo no colégio.

Desta vez, entretanto, a vantagem capturada pelas enquetes é muito grande, de quase dez pontos. São números inclusive superiores aos de Barack Obama, que obteve duas conquistas, e semelhantes à primeira campanha de Bill Clinton, que chegou a este momento da campanha com 10 % na frente (apuradas as urnas, Clinton teve 5,6 % dos sufrágios populares).

Como se vê, a liderança de Biden parece ser confortável o suficiente para obter seu mandato em 3 de novembro. Mas, em política, tudo pode acontecer. Trump é turrão e não deve esmorecer apesar das dificuldades. Isso pode trazer um recrudescimento no discurso do candidato republicano e talvez uma guerra midiática mais avinagrada e robusta, com direito a denúncias de última hora. Tudo calculado para tirar apoio do adversário.

Em 2016, foram computados cerca de 137 milhões de votos, dos quais 58 milhões foram antecipados pelo correio ou de forma presencial. Em 2020, por conta da pandemia, este método de votação explodiu: mais de 70 milhões de eleitores já escolheram seu candidato dessa forma. Especialistas afirmam que os democratas superam os republicanos na proporção de 2 para 1 nesta modalidade eleitoral.

Isso pode ser um fator importante no resultado final, uma vez que três estados em que a disputa está acirrada tiveram alto de índice de antecipação: Texas (7,8 milhões), Flórida (6,4 milhões) e Carolina do Norte (3,4 milhões).

Se Trump de fato perder estará pagando o preço por não ter avaliado bem o cenário após a pandemia e ter insistido no mesmo personagem que fez sucesso na campanha de 2016. O coronavírus, no entanto, não mexeu apenas com a saúde e a economia. O seu surto também mudou a percepção das pessoas e provavelmente a personalidade do presidente americano passou a desagradar parte daqueles que o apoiaram quatro anos atrás. Ainda não se pode dar a eleição como totalmente certa para Joe Biden, mas a equipe republicana está desanimada e perdendo o sono com a liderança do oponente.

 O animal que simboliza o partido republicano, o elefante, é aparentemente um ser dócil, paquidérmico e lerdo. Mas, ao se sentir ameaçado, pode se tornar arredio, agressivo e lépido. Resta a saber se os republicanos vão, como seu símbolo, agir de forma rápida e implacável nesta reta final da campanha. Se mantiverem a postura impassível, apostando que as pesquisas estão mais uma vez erradas, podem se preparar para ficar os próximos quatro anos na oposição.

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