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Bloqueios eram planejados desde meados de outubro

Agência Pública revelou mensagens circulando há 18 dias nas redes sociais. Procuradores federais querem Bolsonaro investigado por omissão

Investigação da Agência Pública descobriu que, durante todo o período que antecedeu o 2º turno, chamados para a paralisação dos caminhoneiros circularam em grupos bolsonaristas. As mensagens mostram que os extremistas traçaram ao menos dois cenários: realizar a paralisação nas semanas anteriores à votação ou logo após a divulgação dos resultados, no que já chamavam de “contragolpe” – antes mesmo da eleição acontecer.

“Preparem as barracas, o povo nas cidades vai para os quartéis os caminhoneiros e o agro irão parar às rodovias”, diz a mensagem com erros de ortografia que circulou em contas bolsonaristas no aplicativo Telegram. Apesar da paralisação ter se concretizado apenas no final de outubro — após o resultado das eleições que declararam a derrota o presidente — o chamado foi disparado semanas antes, em 14 de outubro: “Dia 30 vamos votar e permanecer nas ruas”.

Mensagem de 14 de outubro pediu a bolsonaristas para permanecerem nas ruas após a votação e convocou paralisação de caminhoneiros

De acordo com a Agência Pública, essa mensagem e diversas outras que chamaram à paralisação de caminhoneiros fizeram menção a um discurso realizado por Bolsonaro em Pelotas, no Rio Grande do Sul, em 11 de outubro. Na ocasião, o presidente afirmou que seus eleitores deveriam permanecer nas seções eleitorais após a votação, o que seria um indicativo para o movimento. 

“Pegar a convocação que o PR fez em Pelotas-RS para o povo permanecer (iniciar a intervenção) e ao receber a notícia da fraude seguir todos para as portas dos quartéis”, diz um dos textos, que circulou nos grupos Ordem de Cristo, Conservadores e SCO Sociedade Civil, este último com 4,9 mil membros.

Nesta terça-feira (1º), antes da declaração pública e protocolar de Bolsonaro admitindo a derrota, já se espalhava nos grupos bolsonaristas a seguinte mensagem: “O presidente não pode falar abertamente, mesmo que ele reconheça a derrota, ignorem porque ele precisa do nosso apoio, mas não pode ser explícito”

De acordo com a lei 14.197/2021, atentar contra as instituições democráticas é crime e pode levar de 4 a 12 anos de reclusão.

Deputados defenderam bloqueios

A deputada Carla Zambelli (PL-SP), o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), o mais votado do país, e o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) também encorajariam o movimento que começou a ser desbaratado pelas polícias. Silveira foi condenado pelo STF por ameaçar ministros da corte e atacar a democracia só para ser perdoado por Bolsonaro, para depois ter sua candidatura ao Senado suspensa atpe ser, sub judice, derrotado nas urnas.

Em um vídeo, Zambelli acusou sem provas que houve uma fraude eleitoral. “O resultado dessa eleição não reflete o sentimento da maioria da população”, disse – o que é falso. Em uma apuração sem qualquer indício de fraude, Lula recebeu mais votos do que Bolsonaro e, portanto, será o novo presidente. Zambelli não questionou as urnas quando Bolsonaro venceu em 2018, nem sequer agora em 2022, quando ela mesma se reelegeu à Câmara. Tampouco comentou que na derrota do segundo turno Bolsonaro angariou 408 mil votos a mais que em sua sua vitória de 2018.

Sem questionar o resultado, Nikolas Ferreira escreveu na segunda-feira (31) que “Soldado que vai à guerra e tem medo de morrer é um covarde”, enquanto manifestantes bloqueavam centenas de rodovias em todo o país. Já Daniel Silveira, por sua vez enviou um áudio em que volta a acusar, sem provas, um “golpe” nas urnas.

Tuíte de Carla Zambelli

Entretanto, no mesmo dia do apoio, o Twitter reteve a conta de Carla Zambelli. A conta de Zambelli foi “retida no Brasil em resposta a uma demanda judicial”, diz aviso do Twitter (abaixo).

A deputada é uma das principais apoiadoras do presidente Jair Bolsonaro e menos de 24h antes da votação do segundo turno foi filmada. A deputada é uma das principais apoiadoras do presidente Jair Bolsonaro e menos de 24h antes da votação do segundo turno foi filmada perseguindo e apontado uma arma para um homem negro.

Procuradores pedem investigação

Um grupo de aproximadamente 200 procuradores do Ministério Público Federal enviou um ofício ao procurador-geral da República Augusto Aras pedindo que ele abra investigação sobre a suposta omissão ou instigação do presidente Jair Bolsonaro e de outras autoridades com foro privilegiado relacionados aos bloqueios nas rodovias.

No ofício, eles afirmam que compete a Jair Bolsonaro a determinação para que os órgãos do governo federal tomem providências para desobstruir as estradas, o que não ocorreu. Dizem também que o silêncio do presidente sobre o assunto tem inflamado os manifestantes.

“É inadmissível que qualquer autoridade, diante de uma escalada que quer suplantar a legitimidade do voto popular pela força e pela desordem, assista impassivelmente a esse cenário, sem qualquer consequência. (…) A omissão do Excelentíssimo senhor presidente, nesse contexto, pode ter relevância penal, nos termos do parágrafo segundo do artigo 13 do Código Penal, além de poder configurar outros crimes correlatos”, escreveram no ofício.

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