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Bolsonaro e os banqueiros

Hoje, o presidente Jair Bolsonaro terá uma reunião com os principais banqueiros do país, organizada pela Febraban. Como se sabe, a entidade assinou um manifesto pró-democracia publicado na sexta-feira e idealizado pela FIESP. Antes disso, outro documento, de mesmo teor, foi divulgado no final de julho, com a adesão de dois controladores do Banco Itaú: Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles.

No caso da primeira carta, Bolsonaro e o ministro Ciro Nogueira rebateram a adesão dos banqueiros, explicando que havia uma insatisfação das instituições financeiras com a criação do PIX, que tiraria receitas de tarifas cobradas nas transferências entre contas correntes. Ocorre que o sistema criado pelo Banco Central está em vigor desde fevereiro deste ano – e nenhum balancete dos filiados à Febraban, até agora, mostrou queda nos resultados. Pelo contrário. Tomemos o exemplo do Bradesco, que divulgou há poucos dias o balanço de seu segundo trimestre: a instituição obteve lucro de R$ 7,04 bilhões, o que representa um crescimento de 11% na comparação com igual período de 2021.

Seguidores de Bolsonaro, inclusive, começaram a espalhar a versão de que os banqueiros estavam apoiando Luiz Inácio Lula da Silva porque as instituições financeiras nunca ganharam tanto dinheiro como na época do petista. Se tiramos uma fotografia instantânea, comparando o período de Lula e Dilma Rousseff com o passado, essa premissa será verdadeira. Mas, quando analisamos os balanços recentes dos bancos, percebemos que há recordes seguidos de rentabilidade nos governos de Michel Temer e do próprio Bolsonaro.

O fato é que estamos falando de empresas com alicerces sólidos, que resistiram a todo o tipo de desafio – da hiperinflação a planos econômicos sem pé nem cabeça. Esse histórico tornou os bancos brasileiros extremamente resilientes e capazes de se adaptar aos novos cenários de forma instantânea.

Por isso, os banqueiros são criaturas pragmáticas, que conseguem se adaptar a qualquer tipo de cenário. Isso quer dizer que os bancos são lulistas? Não necessariamente. Mas, com certeza, conseguirão se adaptar a um eventual receituário econômico vindo das hostes petistas.

Muitos banqueiros, em confidência, se mostram irritados com a condução política do presidente Bolsonaro e especialmente estão preocupados com a guinada populista do governo nos últimos meses, com o devido sacrifício das contas estatais. Mas, ainda assim, reconhecem avanços feitos pela equipe de Paulo Guedes para tornar a atividade empresarial mais livre de entraves burocráticos no Brasil.

Há um sentimento de frustração com o atual governo, seja no campo da privatização como na seara dos gastos públicos. Mas os financistas entendem que, nestes dois universos, foi feito muito mais nos últimos três anos e meio do que um hipotético governo Fernando Haddad faria.

Neste cenário, a Febraban ficará em silêncio. Haverá, aqui e ali, apoiadores de Bolsonaro e de Lula – mas este apoio jamais ganhará a luz do dia.

O sistema financeiro está ao lado do Estado Democrático de Direito, sem necessariamente estar contra Bolsonaro. Isso, para muitos radicais, é difícil de entender. Tudo o que os banqueiros mais desejariam é ter um candidato de direita para chamar de seu. Mas se incomodam com o discurso do presidente, que muitas vezes flerta com o rompimento democrático. Preferem, de qualquer modo, apostar em Bolsonaro e acreditar na continuidade da Democracia. Alguns acionistas de bancos, porém, apostam em uma eventual previsibilidade que Lula pode providenciar.

Hoje, há mais bolsonaristas que lulistas na chamada Faria Lima. Mas, após as eleições, essa divisão acabará – e todos vão pragmaticamente trabalhar sob as regras do novo governo. Seja ele de direita ou de esquerda.

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