Namastê é uma saudação hindu que quer dizer o seguinte: “o Deus que habita o meu coração saúda o Deus que habita o seu coração”. Quando vejo um vídeo com Bolsonaro e seus seguidores no cercadinho, penso sempre neste cumprimento. Parece que existe uma forte conexão entre presidente e fãs, semelhante à descrita pelos hindus – mas através de uma energia maligna. Nessas conversas, em que Deus é sempre citado, parece haver uma predileção para ficar sempre atacando os outros e cutucando os inimigos. O veneno verbal é destilado e recompensado com aplausos e gritos de apoio.
Parece que aquelas pessoas se deleitam ao ver suas peculiaridades, preconceitos e vilezas projetadas em alguém com grande poder. Trata-se de um processo de catarse, no qual ator principal e plateia se alimentam mutuamente. Talvez esse seja um sinal inequívoco de que os tempos estão mudando, numa sacudida moral e comportamental semelhante à que ocorreu nos anos 1960. Sobre esse processo, o escritor Ian Fleming, criador do agente 007, disse o seguinte: “Esse negócio de certo ou errado está ficando um pouco desatualizado. A história está se movendo tão rapidamente nos dias de hoje que heróis e vilões ficam mudando continuamente de papel”.
As palavras de Fleming são tão atuais quanto outra frase de sua autoria: “The name is Bond. James Bond”.