Como em uma realidade alternativa, presidente desdenhou de todas as críticas, mas deixou escapar no JN: “Você me estimula a ser ditador”
Primeiro candidato recebido no Jornal Nacional, o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi entrevistado ao longo de 40 minutos por William Bonner e Renata Vasconcellos, na noite desta segunda-feira (22). Desde o início, o presidente contestou os entrevistados, falando ser vítima de fake news produzidas pela grande imprensa quando perguntado sobre suas atitudes autoritárias, contestação da lisura das eleições sem apresentar provas e ofensas pessoais aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). De início com uma postura contida, o presidente se viu praticamente obrigado a afirmar que respeitará o resultado das urnas, seja qual for. Sobre seus apoiadores pedindo ditadura, desconversou: “Liberdade de expressão”.
Na hora de abordar a guinada do governo em direção ao Centrão, grupo de partidos da qual disse jamais compactuar con o fisiologismo – para há pouco declarar que era um alinhado -, provocou Willian Bonner: “Você está me estimulando a ser ditador”. A frase vaga e fora de contexto, mas de efeito, se referia à necessidade de alianças para governar. Sem uma boa justificativa, lançou: “No meu tempo não era Centrão, não existia Centrão”, sobre o bloco que recebe essa designação desde o governo Sarney (1985-1990), quando o atual presidente iniciava sua vida política como vereador (1989-1991) no Rio, pelo extinto PDC, que formava a primeira versão do bloco junto com os antigos PFL, PL, PDS, PTB e alas do PMDB.
Palhaçada
A entrevistadora Renata Vasconcellos questionou a postura do presidente durante a pandemia, desestimulando a vacinação, associando os imunizantes ao vírus da aids e atrasando por 90 dias a aquisição da vacina da Pfizer. Bolsonaro negou tudo, em especial a crise nos hospitais de Manaus e, ao ser confrontado com sua imitação de um paciente com falta de ar, disse ter sido solidário ao ouvir o povo na rua, classificando a CPI da Pandemia de “palhaçada”. “Vocês se vacinaram com vacina comprada por mim”, disse, ignorando que foi pressionado a adquirir os imunizantes. Voltando a citar o ineficaz tratamento precoce, também afirmou que a população se contaminou mais em casa do que nas ruas – sem apresentar provas.
Sobre o desmatamento e queimadas na Amazônia, Bolsonaro disse que há “abuso por parte do Ibama”. Sobre a fragilização da fiscalização, alegou que seu propósito é cumprir a lei – enquanto a destruição da floresta segue em alta, comparando as emissões de gases de efeito estufa dos incêndios com o uso de combustíveis fósseis.
As suspeitas de corrupção, principalmente no Ministério da Educação, quando dirigido por Milton Ribeiro, foram desconversadas. No episódio, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura disseram atuar em nome do presidente na intermediação de repasses de verbas a prefeituras. Detalhe: ambos não tinham nenhuma atribuição no governo.
O único ponto ameno na conversa foi a economia, afetada pela pandemia e pela guerra na Ucrânia.
O que não foi perguntado
- Volta da fome;
- Orçamento secreto;
- Ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, suspeito de envolvimento em contrabando de madeira da Amazônia;
- Escândalo das rachadinhas envolvendo seu filho, o senador Flávio;
- Aquisições superfaturadas pela Codevasf.
Após Bolsonaro, serão entrevistados os candidatos Ciro Gomes (PDT), na terça (23); Lula (PT), na quinta (25); e Simone Tebet (MDB), na sexta (26). As datas e a ordem das entrevistas foram definidas em sorteio, em 1º de agosto, com representantes dos partidos.
O que MONEY REPORT publicou