O ex-presidente Jair Bolsonaro sempre foi considerado um político espontâneo, sem papas na língua e de pavio curto. Brigão e belicoso, ele se meteu e vários desentendimentos durante seus quatro anos de mandato e continua se metendo em confusões fora do poder. Mas será mesmo que Bolsonaro não planeja seus atos e faz tudo na base do impulso?
Façamos uma reflexão rápida sobre o recente tumulto em relação aos dois dias em que esteve hospedado na Embaixada da Hungria. Para muitos, ficou claro que ele resolvera ficar em solo estrangeiro (como são consideradas as embaixadas) porque achava que seria preso logo após ter seu passaporte confiscado pelas autoridades. Mas Bolsonaro dificilmente produz provas contra si mesmo. Neste e em outros casos polêmicos, ele quase sempre fica na fronteira da legalidade e acaba criando rachas na comunidade jurídica.
É bastante possível que o ex-presidente faça alguns movimentos de caso pensado, preocupado com a legalidade de seus atos. Isso ficou mais evidente à medida que deixou o Palácio do Planalto. Sem estar alojado no terceiro andar daquele prédio, ele percebeu que precisaria tomar algumas precauções antes de tomar atitudes.
Muitos podem achar que Bolsonaro é perseguido pela Justiça – em particular pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal Eleitoral (que possuem os mesmos membros em três cadeiras). Ocorre que estamos aqui em uma discussão do tipo “o ovo ou a galinha”. O ex-presidente cutucou demais a Alta Corte e achou que não receberia respostas à altura das provocações. Estava redondamente enganado.
Onde muitos enxergam falta de paciência combinada com raiva, porém, pode haver calma e tranquilidade. Bolsonaro se sente em seu próprio habitat quando está no meio a um debate acalorado. Muita gente se sentiria desconfortável e na defensiva. Mas o ex-presidente fica extremamente à vontade nesses momentos.
É nessas horas que ele produz lacradas inesquecíveis ou solta argumentos inesperados que paralisam seus interlocutores. Um exemplo ocorreu quando um jornalista o arguiu sobre o golpe militar de 1964. O ex-presidente, calmamente, disse ao profissional de imprensa que não houve golpe porque a presidência havia sido declarada vaga. O jornalista, diante disso, travou e a discussão, na prática, morreu.
Ocorre que, quando os militares se rebelaram, João Goulart ainda estava no Brasil – mais especificamente no Rio Grande do Sul. Mas, mesmo que ele estivesse longe das fronteiras nacionais, o deputado Ranieri Mazzili, então presidente da Câmara, estava no Palácio do Planalto no momento em que a chefia de Estado foi decretada vaga – em uma clara ilegalidade.
É claro que o governo Goulart não tinha mais condições de se manter no poder, até pela falta de apoio parlamentar. Mas daí a justificar legalmente a tomada de poder pelos militares é um tremendo silogismo. Bolsonaro distorceu a história descaradamente e nem corou – e é por isso que ele costuma surpreender debatedores que vão sendo tomados pela raiva, enquanto o ex-presidente está, no fundo, se divertindo com a situação.
Talvez os adversários precisem reavaliar a personalidade do ex-presidente antes de tentar diminuir sua importância política. Bolsonaro tem mais sangue frio do que parece. E tem à mão um grupo de apoiadores disposto a relevar quase tudo que é divulgado pela imprensa, como o caso da Embaixada da Hungria.
Respostas de 2
Caro Aluízio. Minha # , antes de mais nada, é # nemnem. Cansei de políticos que “vociferam pra platéia, mas enfiam o rabinho no meio das pernas na coxia”.
Na real, Bolsonaro também vociferava na coxia, em suas bizarras reuniões ministeriais, no cercadinho, em entrevistas com jornalistas. Lula o faz, principalmente em reuniões do PT, inaugurações, lançamento de projetos…Mas, falam muito e fazem pouco. Lula já percebeu que, se não colocar em prática muuuuitos dos projetos prometidos, sua popularidade continuará caindo. Cuidar das queimadas, dos yanomamis, acusar Israel de genocídio, não está sendo suficiente para melhorar sua desgastada imagem. O brilho de 2002, hoje, é opaco. Mas, sim, Lula demonstra, pelo menos, maior capacidade de articulação, e uma “visão de estadista” à altura do cargo, que, Bolsonaro não teve e não tem. E, enfim, qual é o legado que cada um deixou / vai deixar ao final de seus governos? Confesso, faço força pra achar alguma coisa, mínima que seja, de boa, do governo Bolsonaro. Não consigo. Bravatas, provocações, mas nem um único projeto efetivamente relevante para a (re)construção deste país. Lula? Em sua 3a tentativa…ainda não disse a que veio. É bem verdade que a atual configuração política brasileira nos apresenta um quadro intrigante (e preocupante). Quem “manda” neste país, afinal? Lula? Artur Lira? Rodrigo Pacheco? Alexandre de Moraes? Voltando e finalizando: pra mim, Bolsonaro (fora suas inúmeras coisas a explicar) é o “cão que late, mas não morde”. Não tem estofo intelectual, cultural, social e político pra defender legitimamente a ideologia de direita. Pra mim, Bolsonaro é só um falastrão. Lula, um ator, cujo único papel, parecer ser sua obsessiva tentativa de se apresentar como “candidato ideal ao Premio Nobel da Paz”. Me sinto órfão.
boa, Thomas. Por aí