BNDES, liberdade de imprensa, Petrobras e gás de cozinha foram os assuntos escolhidos para as transferências generalizadas de culpa. Os alvos foram Lula e os governadores
Com o avançar do calendário e as pesquisas eleitorais que apontam o ex-presidente Lula (PT) como líder nas intenções de votos reverberam nas declarações do presidente Jair Bolsonaro (PL), que volta ao modus operandi de atacar adversários para mascarar tropeços de sua gestão, atribuindo virtualmente tudo aos petistas, que saíram do Palácio do Planalto há 6 anos – e a Lula, que está fora do poder há mais de uma década. Por estar em segundo lugar e sem chances aparentes de vencer no segundo turno, conforme a última pesquisa Ipespe, o presidente abertamente faz alertas aos “riscos” de uma volta do ex-presidente ao poder durante eventos de sua agenda de trabalhando, misturando mandato com candidatura sem maiores cuidados.
BNDES
Bolsonaro se deu ao trabalho de exaltar a atual gestão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) durante sua live em 27 de janeiro, atacando os governos petistas e países, como Cuba e Venezuela, aos quais o Brasil realizou empréstimos. Esteve com ele, o presidente da instituição, Gustavo Montezano, que tinha a missão de abrir a caixa-preta do banco em busca de ilegalidades em empréstimos feitos por governos anteriores ao grupo J&F. Após serem gastos R$ 48 milhões com a auditoria, foi concluído que tudo estava nos conformes entre 2005 e 2018 – governos Lula, Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), apontou o relatório publicado em 2019.
Montezano no entanto disse que há um “calote” de R$ 3 bilhões por parte de Cuba. Bolsonaro questionou o que foi deixado como garantia em troca do aporte – ignorando os acertos fiscais por balança comercial. O presidente do BNDES, por sua vez, preferiu responder para agradar a torcida: “Se Cuba não pagasse, o governo brasileiro iria lá penhorar as vendas de charuto em Havana”. Apesar de criticar aos empréstimos, admitiu não haver irregularidades no processo.
Imprensa
Nesta quarta-feira (2), durante a abertura dos trabalhos legislativos de 2022, Bolsonaro citou Lula, alegando que ao contrário de seu oponente, no seu governo há respeito pela liberdade de imprensa e que nunca jamais propôs a regulamentação da mídia e nem da internet, diferente de “outros”. É menos que meia verdade. Com Bolsonaro, os ataques à imprensa aumentaram. Em junho de 2021, o presidente ofendeu a âncora da CNN Brasil, Daniela Lima, chamando-a de “quadrúpede”, quando da apresentação de dados sobre emprego. No mesmo mês, ele também agrediu verbalmente a repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da TV Globo no interior de São Paulo. Ao ser questionado sobre o uso de máscara, mandou-a calar a boca e disse que sua emissora fazia “jornalismo canalha”.
Petrobras
Em 6 de janeiro deste ano, Bolsonaro disse que os preços dos combustíveis estavam ligados à falta de investimentos na Petrobras, por conta de roubos dos antigos governos – uma referência aos escândalos envolvendo a estatal aos petistas. “Reduzimos R$ 100 bilhões da dívida da Petrobras, pagos no ano passado, que o PT entregou a partidos políticos. A falta de investimentos reflete no reajuste dos combustíveis”, afirmou em entrevista à TV Nova Nordeste. Ele só não disse aos telespectadores que parte dos partidos envolvidos nos escândalos hoje estão na sua base, como o Progressistas, que foi investigado no inquérito do quadrilhão, já arquivado. Bolsonaro citou que os roubos foram “trilionários”. Em 2020, o produto interno bruto (PIB) brasileiro, a soma de tudo que foi produzido, atingiu US$ 1,44. trilhão. A conta não fecha.
Gás de cozinha
Outro ponto é que o mandatário não atribui a alta dos combustíveis ao câmbio descontrolado, crise externa e a má gestão de seu governo na economia, que patina com a alta da inflação. Para tanto, afirmou que o gás de cozinha poderia ter venda direta, assim como o etanol, pois esse seria um dos fatores que encarecem o produto. Porém, não explicou quem venderia, quem cuidaria da segurança do botijão e como a qualidade desses gás seria fiscalizada. Depois, culpou os governadores por não terem levado a iniciativa adiante. Só que a questão jamais esteve abertamente em questão.