O presidente eleito, Jair Bolsonaro, ontem se queixou publicamente da cobertura que o jornal Folha de S. Paulo deu a sua campanha. Reclamou particularmente de dois episódios. Um no qual a Folha denunciou que ele mantinha uma funcionária fantasma e outro acusando um grupo de terceiros de custear o envio de mensagens de WhastApp em seu benefício, o que configuraria caixa dois.
Vamos deixar de lado, por enquanto, a discussão sobre a veracidade das denúncias levantadas contra o então candidato do PSL. E falar um pouco sobre como a imprensa deveria se posicionar durante as eleições. O ideal seria perseguir a transparência, como ocorre em muitos veículos nos Estados Unidos. O New York Times, sabidamente democrata, publica um editorial no ano da eleição presidencial apontando seu apoio a um determinado candidato. Até hoje, todos ungidos pelo NYT foram democratas. A Fox News, por sua vez, embora bem mais jovem que o New York Times, deixa explícito seu furor republicano. Âncoras e comentaristas eram implacáveis com Barack Obama na mesma medida em que são dóceis com Donald Trump.
Talvez essa posição não seja a mais justa. Mas, pelo menos, existe transparência. Sabe-se exatamente qual é o viés de cada veículo quando entramos em contato com uma notícia. A maioria esmagadora dos americanos tem certeza de que o New York Times vai pegar no pé de Trump. E que a Fox News, por outro lado, vai aliviar a barra do presidente dos Estados Unidos.
No Brasil, temos uma neutralidade meia-boca. Jornais, revistas e emissoras de TV fazem juras de amor à Deusa da Imparcialidade Jornalística, mas oscilam entre o conservadorismo e o esquerdismo. Ambos disfarçados. Na internet, isso fica ainda pior. Muitos sites, escondidos sob o anonimato, são verdadeiros esgotos de Fake News, divulgando mentiras ao sabor de sua ideologia.
Dentro desta Babel digital, contudo, há exemplos de retidão e integridade jornalística. Money Report, por exemplo, afirma em seu disclaimer na home page que é um portal a defender a agenda liberal: menos estado, melhor ambiente de negócios, mais empreendedorismo. Nem por isso, contudo, distorcemos os fatos. Durante a campanha, não escondemos os erros dos candidatos que estavam mais à direita do espectro político. A ponto de termos recebido uma mensagem exaltada de um fã de Jair Bolsonaro, que nos chamou de “bando de esquerdalhas”. É o preço a se pagar quando prezamos a verdade acima de todos e tentamos ser imparciais acima de tudo.
Voltando ao queixume de Bolsonaro, o presidente eleito, exageros à parte, tem suas razões de se lamentar. Há veículos que claramente editam seu conteúdo para pegar no pé dos chamados conservadores. Se pegassem no pé dos esquerdistas com a mesma intensidade, tudo seria justo. Mas há uma proporção de dez para um contra a direita.
Muitos eleitores conservadores, ao longo da eleição, reclamaram constantemente pela rede social de uma emissora de notícias por assinatura. O calor do pleito os fazia acreditar que todos comentaristas estavam num conluio comunista, o que é evidentemente um exagero. O que esta emissora faz, com certo cuidado, é manter a diversidade entre aqueles que comentam o cenário político. Agora, com os ânimos apaziguados ao final do período eleitoral, espera-se que as pessoas voltem à normalidade e tenham um pouco mais de tolerância com os jornalistas que tentam interpretar as notícias de Brasília.
De qualquer forma, o termo “imparcialidade jornalística” entrou definitivamente na berlinda. Talvez para sempre. E, neste caso, o ideal seria assumir uma posição cada vez mais explicita sobre o que um determinado veículo pensa. Um bom exemplo é o que fazem New York Times e Fox News. Mas há outras formas de se deixar claro o que é noticia e o que é opinião.
Tome-se o caso do jornal “O Globo”. Toda a vez que seus editores se sentem compelidos opinar sobre alguma notícia, sapecam um quadro com a palavra “Editorial” escrito no local do título. É a forma que o “Globo” encontrou para dizer sem delongas o que pensa e de que lado está sobre aquela notícia em particular. Uma iniciativa louvável que deveria ser copiada por vários órgãos de imprensa. Especialmente agora. Pois as Fake News não são um fenômeno passageiro, algo que aconteceu somente nesta eleição. Não se iludam. As Fake News chegaram para ficar. E ainda vão dar muito trabalho a todos.