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Bolsonaro vai se controlar nos debates?

Logo depois que os resultados do primeiro turno tinham sido divulgados, o presidente Jair Bolsonaro entrou ao vivo nas emissoras de TV para uma entrevista coletiva. Estava comedido, usando tom moderado e sem as lacrações de sempre – ou seja, não parecia do Bolsonaro velho de guerra. Essa atitude animou muitos aliados do presidente, que sempre o aconselharam a conquistar o voto dos eleitores de centro através do comedimento. Logo na última sexta-feira, porém, o mandatário deu outra entrevista. E, nessa, voltou a ser o personagem habitual. Chamou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “pinguço” e novamente falou, falou e falou sobre o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. As fotos da coletiva, divulgadas pelos principais jornais e disseminadas pela internet, mostram um Bolsonaro tomado pela cólera.

No próximo domingo, teremos o primeiro debate entre os candidatos à presidência. E, até o dia 28, teremos mais quatro embates. A pergunta que fica é: qual Bolsonaro comparecerá ao debate? O controlado ou o colérico?

A dinâmica dos debates de segundo turno é completamente diferente daqueles realizados na primeira etapa das eleições. Nesses, em função do grande número de candidatos, é possível utilizar alguém da bancada para alavancar críticas a seu principal oponente. Tanto é que o presidente evitou o quanto pôde um conflito direto com Lula. A partir de 16 de outubro, entretanto, não há outra saída a não ser o tête-à-tête com o inimigo.

A audiência, igualmente, está em outra sintonia. Os eleitores de Bolsonaro e Lula querem escutar propostas e, principalmente, estudar a postura dos candidatos. Neste cenário, quem se descontrolar emocionalmente sairá em desvantagem.

O presidente Jair Bolsonaro tem aversão a qualquer tipo de treinamento para programas de televisão deste tipo. Essa providência não resolve tudo, obviamente, mas boa parte dos assuntos polêmicos pode ser tratada antecipadamente e, com isso, suavizar o impacto emocional das perguntas e críticas feitas ao vivo.

Mas há outra questão em jogo: a linguagem corporal e as expressões faciais que os candidatos farão durante a transmissão. Esses são elementos importantes, capturados pelo subconsciente dos telespectadores, que podem levar à vitória ou à derrota.

O controle emocional, assim, é crucial neste momento. Trata-se de uma questão que precisa ser levada em consideração por Bolsonaro, que se sente confortável em um clima belicoso. Mas é um ponto significativo também para Lula. Recentemente, em momentos de improvisação, o candidato do PT cometeu gafes e criticou, por exemplo, os eleitores interioranos. A irritação de Lula com o Padre Kelmon, ainda no primeiro turno, também mostra que ele está sujeito a provocações.

Um exemplo clássico de como as imagens em um debate podem ser importantíssimas para uma eleição é o programa de TV que reuniu John F. Kennedy e Richard Nixon, em setembro de 1961. Para quem acompanhou a discussão entre os dois candidatos pelo rádio, Nixon foi o vencedor; já para que acompanhou o programa na televisão, JFK foi muito superior. A diferença ficou por conta justamente na linguagem corporal de Nixon, que estava intimidado pelas câmaras e distribuía sorrisos tímidos, além de suar bastante. Kennedy, ao contrário, estava à vontade no estúdio e seu semblante passava confiança e segurança.

Kennedy e Nixon não são Lula e Bolsonaro. São situações diferentes, com personagens totalmente diversos. Mas o exemplo de 1961 é importante mesmo assim, pois mostra que o conteúdo do debate não é a única coisa percebida pelo eleitorado. Portanto, se o presidente optar pela lacração agressiva, elevando a voz e tornando seu tom áspero, como fez na entrevista de sexta-feira, poderá estar em maus lençóis junto aos eleitores de centro que precisa arregimentar para vencer no segundo turno.

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