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Boulos virou o picolé de chuchu da esquerda?

As últimas pesquisas mostraram certa estagnação de Guilherme Boulos, o candidato do PSOL (em aliança com o PT) à prefeitura de São Paulo. Muitos analistas falaram, na semana que passou, sobre o que estaria impedindo Boulos de crescer. A maioria se fixou em uma opinião: o deputado federal teria chegado ao teto de seu conjunto de intenções de voto. Mas talvez existam duas outras razões para explicar a performance daquele que é o nome mais forte da esquerda na disputa municipal paulistana.

A primeira foi o conjunto de ataques desferidos por Pablo Marçal nas redes sociais e nos debates – muitas vezes, utilizando golpes abaixo da linha da cintura, como a acusação de que ele seria usuário de drogas (aparentemente, baseando-se em um processo judicial contra um homônimo). Boulos não conseguiu se sair bem diante das provocações do ex-coach e perdeu as estribeiras quando foi “exorcizado” por uma carteira de trabalho.

A segunda tem a ver com o tom adotado pelo candidato em 2024. Boulos está bem diferente daquele que concorreu contra Bruno Covas quatro anos atrás. Com uma plataforma que privilegiou temas caros à população jovem, como a preocupação com o meio ambiente e uma pauta liberal de costumes, ele entusiasmou uma boa parcela do eleitorado e foi ao segundo turno, derrotando inclusive o petista Jilmar Tatto (8,65% dos votos no primeiro turno) e o ex-governador Márcio França, do PSB (13,64%).

A aliança do deputado, composta pelas siglas PSOL, PT, PCdoB, PV, PDT e PMB, é o abrigo de quase todos os partidos de esquerda, com exceção de PSB, PSTU e UP. Apesar disso, Boulos sabia, desde o início do ano, que precisaria contar com votos dos eleitores de centro caso quisesse ganhar o pleito.

Diante disso, adotou um discurso moderado, enfatizando sua condição de professor universitário e tentando afastar-se do perfil construído como líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, quando comandou invasões de propriedades privadas. Agora, diz que “entregou casas” à população carente e seus comerciais de campanha exultam que o candidato lutou por “um processo conduzido de maneira correta, com o apoio do poder público, para a conquista da casa própria”. A língua utilizada para falar de sua época de MTST, pelo jeito, é um tucanês castiço.

A moderação, no entanto, parece ter sido uma armadilha para o candidato.

Em primeiro lugar, o eleitorado não conseguiu comprar a nova imagem do deputado, que adotou um tom de voz neutro até para criticar o prefeito Ricardo Nunes, um de seus adversários diretos. Além disso, ninguém garante, nem mesmo dentro da esquerda, que Boulos, dentro de si, tenha mesmo se transformado em alguém moderado.

Ao discorrer sobre questões técnicas e de zeladoria, o candidato do PSOL parece uma versão esquerdista do vice-presidente Geraldo Alckmin, o que talvez faça dele um picolé de chuchu em versão avermelhada.

O vice-presidente, aliás, é um bom exemplo de como adotar um discurso diferente pode tirar votos de um político. Todos se lembram que, no primeiro debate presidencial do segundo turno de 2006, Alckmin foi extremamente agressivo com seu adversário, Luiz Inácio Lula da Silva – uma estratégia adotada ao longo da segunda etapa do pleito daquele ano.

Os eleitores estranharam o novo Alckmin. Resultado: ele conseguiu a façanha de ter menos votos no segundo turno do que obteve no primeiro (39,9 milhões de votos contra 37,5 milhões).

Boulos tem um dilema: seu índice de rejeição é alto (cerca de 37%, só perdendo para Marçal, com 44%, segundo o Datafolha), mesmo com a adoção de um tom moderado. Caso volte a ser agressivo, pode ganhar em autenticidade, mas correria o risco de ver sua taxa de desaprovação crescer.

Caso vá ao segundo turno, o candidato do PSOL terá de perder o jeitão anódino sem apelar para manifestações raivosas. Em 2018, quando se candidatou à presidência, ele citou Che Guevara em um post nas redes sociais: “Vale milhões de vezes mais a vida de um único ser humano do que todas as propriedades do homem mais rico da Terra”. Diante do dilema que se encontra no momento atual da campanha, talvez ele tenha de seguir outra máxima, atribuída ao revolucionário argentino, que – ao lado de Fidel Castro – tomou o poder em Cuba no ano de 1959: “hay que endurecerse pero sin perder la ternura jamás”.

Não há registro oficial de que Che tenha dito essa frase, mas sua essência pode mostrar uma direção ao caminho que Boulos precise trilhar daqui para a frente. Uma coisa é certa: o modelito picolé de chuchu de esquerda não o levará a lugar nenhum.

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