Lula puxa países sul-americanos a usar ativos ambientais para criar pressão por mais atenção e investimentos externos
Em busca de protagonismo político e alternativas econômicas, o Brasil tenta ganhar musculatura no cenário global com a Cúpula da Amazônia, que reunirá em Belém (PA), entre 8 e 10 de agosto (de terça a quinta), chefes de estado de países da região e convidados. O objetivo é estabelecer ações conjuntas para combater desmatamento ilegal, crime organizado (drogas, garimpo, tráfico humano e contrabando de espécies nativas) e financiamento externo para o desenvolvimento sustentável. Até aqui, perfeito.
Desde que venceu as eleições, Lula fala do assunto. Há dois objetivos, um amplo e geopolítico e outro nacional, que envolve política e dinheiro. No cenário amplo, o negócio é dar impulso a um bloco regional capaz de aumentar o peso político de Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana e Suriname. Fechada uma pauta, os primeiros movimentos se dariam na conferência do clima das Nações Unidas, a COP28, nos Emirados Árabes, entre 30 de novembro e 12 de dezembro. Faz sentido. Não dá para falar em preservação, redução das emissões e créditos de carbono sem que os donos da mata apresentem a conta e exijam sua parte. Além disso, Lula tem a seu favor a promessa de 2009 ainda não cumprida de US$ 100 bilhões dos países desenvolvidos para financiar nações pobres e em desenvolvimento contra as mudanças climáticas. Seriam iniciativas que favoreceriam o Brasil, que navega bem nas pautas ambiental e de transição energética.
Blocão tropical
No cenário doméstico, Lula quer mostrar serviço, engordando o Fundo Amazônia, uma conta sustentada por Noruega e Alemanha para financiar projetos sustentáveis. O governo norueguês é acionista de projetos de exploração de bauxita no Brasil. Com Bolsonaro, o fundo ficou parado. Agora a intenção é engordar essa conta atraindo outros contribuintes. Reino Unido e Estados Unidos já anunciaram que vão doar bilhões. Com isso, todo mundo faz boa figura, o Brasil economiza recursos e consegue em pouco tempo aliviar a impressão que é incapaz de combater de modo efetivo a destruição na mata.
Se obtiver tração, Lula poderá atrair também países como Indonésia, Malásia, Congo e República Democrática do Congo, criando um blocão verde tropical. Se trata de um jogo de ganha-ganha com inconvenientes de ocasião. O presidente da França, Emanuel Macron, disse que não vai aparecer, fazendo jogo duro após o discurso de Lula em Paris contra as ações das grandes economias. Macron também governa a Guiana Francesa, departamento ultramarino que perfaz 1,5% da região amazônica e que possui problemas proporcionalmente até maiores que os brasileiros. Os presidentes do Equador, Guillermo Lasso, e de Suriname, Chan Santokhi, também não devem aparecer desta vez. Nada que não dê para remediar a seguir.
No bazar da política global, não há nada de errado em espernear e dar algumas cotoveladas em busca de atenção. Por mais que os países sul-americanos não sejam um primor de estabilidade econômica, índices sociais elogiosos e estabilidade democrática, por aqui as coisas andam bem mais calmas que no Leste Europeu, Oriente Médio e África. Se der errado, o Brasil e vizinhos não perdem muito, se der certo, todos ganham. O único problema seria deixar de cumprir o prometido. O principal será zerar o desmatamento até 2030.
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