Na cúpula de Kazan, governo Lula criticou o regime venezuelano e rejeitou a entrada do país no bloco sem objeção dos demais membros
A recente cúpula dos Brics em Kazan destacou o isolamento diplomático da Venezuela e da Nicarágua dentro do bloco de países emergentes. Embora muitos países aguardem ansiosamente por uma chance de integrar o grupo, a Venezuela e a Nicarágua foram excluídas da “lista de espera” de novos membros. A exclusão não passou despercebida, mas o que chamou mais a atenção foi o fato de que nenhum país do Brics se levantou para defender as duas nações, e o Brasil, por sua vez, foi claro em sua oposição.
O Kremlin já havia indicado que a ampliação do grupo não aconteceria neste encontro, citando divergências entre os membros. Contudo, no que diz respeito à Venezuela e à Nicarágua, a posição brasileira foi determinante. O presidente Lula tem mantido relações tensas com ambos os países. No caso da Venezuela, o governo brasileiro demonstrou irritação com Nicolás Maduro por não apresentar as atas eleitorais que comprovassem a legitimidade de sua reeleição. A presença inesperada de Maduro na cúpula, numa tentativa de pressionar sua entrada, não mudou o cenário.
Já a Nicarágua tem enfrentado rusgas diplomáticas com o Brasil desde que expulsou o embaixador brasileiro, Breno Souza da Costa, em julho, em retaliação à ausência do diplomata nas celebrações da Revolução Sandinista. O governo brasileiro reagiu da mesma forma, expulsando a embaixadora nicaraguense. Além disso, Lula congelou as relações com o país centro-americano por um ano, em resposta à prisão de padres e bispos pela ditadura de Daniel Ortega.
Enquanto isso, outros países latino-americanos, como Bolívia e Cuba, estão sendo analisados pelo Brics, mas suas chances de serem formalmente convidados a ingressar no grupo permanecem baixas. O bloco tem sido cauteloso em sua expansão, com o Kremlin reafirmando que qualquer adição de novos membros será feita de forma ponderada, sem causar atritos entre as nações fundadoras.
Diante disso, o Brasil mostrou que, apesar de suas relações regionais, não teme adotar uma postura firme contra governos com os quais mantém discordâncias, sem que isso provoque objeções significativas dentro do Brics. O silêncio dos demais membros diante das críticas brasileiras à Venezuela e Nicarágua reforça a ideia de que o bloco está cada vez mais seletivo, buscando manter a coesão entre seus integrantes em um cenário geopolítico instável.