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Busca pela vacina da covid em 2020 é uma corrida política incerta

As esperanças pela vacina contra o coronavírus ainda este ano são difundidas pelas autoridades nos noticiários, mas até agora nenhuma das candidatas tem eficácia comprovada. Nem mesmo há certezas de que os testes estejam finalizados até o fim do ano, apesar de alguns indícios e muita especulação. Com o anúncio da vacina russa, já são três as proponentes a se tornar a primeira a imunizar a população brasileira. O governo federal aposta suas fichas na vacina pesquisada pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, em parceria com a farmacêutica AstraZeneca. O governo de São Paulo, na possibilidade vinda da China, mediante convênio do Instituto Butatan com a Sinovac Biotech. E o Paraná assinou nessa quarta-feira (12) um protocolo de intenções com a Rússia, cujo Instituto Gamaleia desenvolveu a Sputnik V.

“Não existe bala de prata no
momento e talvez nunca exista” 

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS

Só que é preciso lembrar que não há qualquer garantia de que teremos vacinação contra a doença que já matou mais de 100 mil pessoas no Brasil em 2020. Nenhuma das três ainda tem eficácia completamente comprovada. O diretor-geral da Organização Mundial Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou na semana passada, que talvez nem surja uma vacina para a covid-19: “Não existe bala de prata no momento e talvez nunca exista”. 

Primeira a entrar na disputa, a vacina da Inglaterra está na fase 3 dos testes clínicos. O Brasil participa dessa etapa com cinco mil voluntários em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Apesar dos resultados positivos nas fases 1 e 2 realizadas por Oxford, a infectologista Lyly Yin Weckx, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), uma das coordenadoras dos testes no Brasil, afirmou no fim do mês passado que não dá para dizer que teremos a vacina licenciada este ano. “É possível que, com a análise interina, a gente possa conseguir um licenciamento antecipado em caráter emergencial, mas são especulações”, disse. Na segunda-feira (10), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou uma mudança no protocolo, que passará a se valer de duas doses. Assim, a aquisição de 15 milhões de doses que chegariam a partir de dezembro acabaria diluída ou a compra pode ser revista. É preciso lembrar que os lotes estão incluídos nos acordos para os testes, sendo repassados com algum desconto.

O governo paulista coloca no páreo a vacina chinesa. As avaliações no Brasil são realizados após parceria com o Instituto Butantan. Nove mil voluntários devem participar dos testes. O governo também fechou a chegada de 15 milhões de doses até dezembro, mas ainda é preciso conseguir todas as validações exigidas. A liberação só será feita após o resultado dos testes e a aprovação da Anvisa. De acordo com o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, depois da aprovação, a vacina será entregue ao Programa Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde, que responde pela distribuição e logística para o resto do país. As doses que chegarão em São Paulo, em três lotes de 5 milhões de unidades a partir de outubro, só estariam à disposição da população a partir de 2021 – se tudo for aprovado.

“No último quarto de século, apenas
sete vacinas verdadeiramente novas
foram introduzidas globalmente”

Ken Frazier, presidente e CEO da Merck

Já a vacina russa ainda é uma incógnita. Anunciada repentinamente e com estardalhaço pelo governo Vladimir Putin na terça-feira (11), atraiu o interesse do governo do Paraná. O protocolo de intenções com a Rússia foi assinado nesta quarta-feira (12) para o acompanhamento das informações relacionadas a vacina Sputnik V. Pelo documento, a vacina eventualmente pode ser testada e até produzida, no estado. Mas, para isso, é necessário aprovação da Anvisa. A Sputnik V é vista com desconfiança pela comunidade científica pela falta de informações. De acordo com as informações iniciais, seu desenvolvimento não passou pela fase 3, com testes clínicos em pacientes e comparativos estatísticos.

Em entrevista em vídeo para o site da Harvard Business School, Ken Frazier, presidente e CEO da Merck, a maior fabricante de vacinas do mundo, afirmou que a vacina desenvolvida em menos tempo até hoje foi contra caxumba, que tomou quatro anos de esforços da empresa. A vacina contra ebola demorou cinco anos e só foi aprovada na Europa na primeira quinzena de julho. “Quando as pessoas dizem que haverá uma vacina até o final de 2020, prestam um grave desserviço ao público”, afirmou. Frazier lembra que no último quarto de século, só sete novas vacinas foram introduzidas em escala global. E que desde os anos 1980 as empresas como a que dirige procuram uma cura para o HIV/AIDS ainda sem sucesso. A conversa ocorreu há um mês. De lá para cá, são só esforços válidos, mas nem um pouco garantidos.

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