O governo teve uma importante vitória na semana com a aprovação da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. A segunda etapa será na comissão especial instalada para discutir o mérito da proposta, que terá o Centrão como protagonista. Das 49 cadeiras, 21 serão ocupadas por parlamentares do bloco. Em entrevista a MONEY REPORT, o cientista político Leonardo Barreto, da Capital Político, avalia as dificuldades que o governo poderá enfrentar na tramitação do projeto. Confira:
O protagonismo do Centrão na comissão especial para discutir a reforma da Previdência é bom ou ruim para o governo?
O que parece claro é que o governo não está no comando da discussão. O Centrão é que está controle. O que está sendo discutido hoje no Congresso é uma questão de preço. O que o Centrão pretende estabelecer é como o governo vai ter que ceder para aprovar a reforma. E o que vejo é que o governo terá de entregar espaço na administração.
Por que o governo não consegue conduzir a discussão de maneira diferente?
O governo não tentou construir uma base. O governo entregou a proposta de reforma da Previdência e deu liberdade para o Congresso fazer o que quiser. Mas os parlamentares estão interessados no ônus da popularidade. Estão de olho em como vai ficar a imagem deles se a proposta passar. Então, em troca, querem garantir outras benesses.
Como resolver isso?
Não tem ponto mágico. O Centrão vai encontrar maneiras de faturar politicamente com a reforma. A existência dos parlamentares passa pela sensação de empoderamento. É importante receber emendas e alocar os recursos para obras e fortalecer o contato com as prefeituras, mas o congressista quer mostrar que tem influência. Então pressiona o governo para nomear aliados em cargos estratégicos. Para mostrar para as bases que tem poder.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deve sair fortalecido do processo?
Ele está na linha de frente e é a cabeça do jogo. Vejo, no entanto, que ele tem feito mais uma defesa corporativa do Congresso. Até poderia ter como alternativa usar o protagonismo para criar um projeto de poder próprio. Mas ele vai permanecer na presidência da Casa até o meio do mandato só. Não vai poder usar a situação para aparecer como grande estadista e se credenciar para projetos maiores.
Existe risco de a reforma não ser aprovada?
O diagnóstico é que a reforma tem um consenso grande para ser aprovada. A dúvida é a velocidade e o tamanho da proposta que chegará para ser votada em plenário. Tudo vai depender da articulação do governo.