Nos últimos 30 anos, país manteve uma cota anual de 10 filmes hollywoodianos em um modelo de compartilhamento de receitas
Em mais um capítulo da crescente tensão comercial entre Estados Unidos e China, o governo chinês anunciou nesta quinta-feira (10) que irá restringir imediatamente a importação de filmes de Hollywood. A medida é uma retaliação direta à nova rodada de tarifas impostas pelo presidente norte-americano Donald Trump sobre produtos chineses.
A decisão foi divulgada pela Administração Nacional do Cinema da China (NFA, na sigla em inglês), que afirmou que as tarifas norte-americanas tendem a prejudicar ainda mais a demanda local por produções de Hollywood. “Seguiremos as regras do mercado, respeitaremos as escolhas do público e reduziremos moderadamente o número de filmes americanos importados”, afirmou o órgão em comunicado publicado em seu site oficial.
Nos últimos 30 anos, a China manteve uma cota anual de 10 filmes hollywoodianos dentro de um modelo de compartilhamento de receitas. Produções como Titanic e Avatar tornaram-se grandes sucessos no país, alçando nomes como Leonardo DiCaprio e James Cameron à fama entre os cinéfilos chineses. No entanto, o cenário mudou. A indústria local ganhou força e, desde 2020, os filmes chineses dominam o mercado, respondendo por cerca de 80% da bilheteria anual — ante 60% em anos anteriores.
Chris Fenton, autor de Feeding the Dragon: Inside the Trillion Dollar Dilemma Facing Hollywood, the NBA, and American Business, avalia a decisão como uma estratégia eficaz e de baixo custo político para Pequim. “É uma maneira muito importante de fazer uma declaração de retaliação com quase nenhuma desvantagem para a China”, afirmou à Reuters.
Segundo Fenton, os filmes de Hollywood atualmente representam apenas 5% da receita total de bilheteria no país asiático. Além disso, a China retém 50% da receita antes que qualquer valor retorne aos estúdios americanos — que, por sua vez, recebem apenas 25% do total, porcentagem bem inferior à de outros mercados internacionais.
“Essa punição de alto nível a Hollywood é uma demonstração de força de Pequim que só tem a ganhar e que certamente será notada por Washington”, concluiu o autor.
Com a segunda maior bilheteria do mundo, o mercado chinês já vinha dando sinais de menor apetite por produções estrangeiras. Atualmente, entre os 20 maiores sucessos de bilheteria da história no país, apenas um filme importado figura na lista: Vingadores: Ultimato, com arrecadação de 4,25 bilhões de iuanes (cerca de US$ 580 milhões). Todos os demais são produções nacionais.
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