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Como a estrela Zambelli virou um problemão para o bolsonarismo

Depois de duvidar das urnas, brandir arma na rua e ser processada no Conselho de Ética, ela envolve Bolsonaro em uma suposta tentativa de invasão do TSE

O que era no início uma relação de amor e cumplicidade virou um divórcio unilateral do bolsonarismo com uma de suas figuras mais estridentes, a deputada Carla Zambelli (PL-SP). Desde a véspera das eleições do ano passado, no episódio em que a parlamentar apontou uma arma e perseguiu correndo um civil no meio da rua, na região dos Jardins, em São Paulo, ela se distancia da cúpula do partido, em uma longa e atrapalhada queda.

Estrategistas do PL afirmaram que a diferença de votos esperada em São Paulo para virar o resultado do pleito em parte caiu por culpa dela. Talvez um exagero, mas ela ganhou o desprezo dos colegas de legenda. Com processos acumulados, chegou a organizar uma vaquinha online para pagar advogados. O que estava ruim piorou nesta quarta-feira (3), com as revelações do hacker Walter Delgatti Neto, que afirmou à Polícia Federal (PF) ter recebido pagamentos dela para grampear o telefone celular e o email do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

De seu lado, Zambelli colocou no rolo o ex-presidente Bolsonaro e o cacique do PL, Valdemar da Costa Neto. Alvo de uma operação de buscas e apreensões da PF, ela revelou que mantinha contato com o hacker Delgatti e que intermediou encontros dele com o então presidente Bolsonaro (PL). “O que tenho de relação com o Walter é que o conheci saindo de um hotel. Ele vivia trocando de telefone, eu queria falar ao vivo. Nos vimos três vezes e conversamos sobre tecnologia. Uma vez, o ajudei a vir a Brasília. Ele disse que teria provas e serviços a oferecer ao PL e o levei a Valdemar da Costa Neto. Fizemos uma reunião”, admitiu.

Pagamento

Para quem não lembra, Delgatti é o hacker envolvido no episódio dos vazamentos da Operação Lava-Jato. É uma história escabrosa, mas que não exatamente surpreende dado o histórico dos envolvidos. O mais estranho é que Zambelli teve como padrinho de casamento, em 2019, o então ministro da Justiça Sergio Moro, que teve sua conduta devassada no escândalo da Vaza-Jato. Agora, esse mesmo Delgatti afirmou que o ex-mandatário Bolsonaro perguntou se, munido do devido código-fonte, ele conseguiria invadir o sistema das urnas eletrônicas – ou seja, que o então presidente teria sugerido a prática de um crime. Contudo, o hacker destacou que o experimento não foi adiante, pois o acesso dado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi apenas na sede do tribunal – local onde ele não tinha acesso liberado. A reunião com Bolsonaro teria ocorrido no Palácio do Planalto.

Todavia, Delgatti não apresentou provas sobre seus encontros com Bolsonaro. Mas Zambelli confirmou: “Ele [Delgatti] se ofereceu para participar de uma espécie de auditoria no primeiro e segundo turno das eleições. Ele encontrou Bolsonaro, que perguntou se as urnas eram confiáveis. Nunca mais houve contato entre eles”, acrescentou.

A confusão aumenta. A deputada negou ter pago o hacker para que ele invadisse os sistemas de tribunais. como o do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), já que no TSE não foi possível. Zambelli disse que só fez um pagamento de R$ 3 mil para que este fizesse melhorias em seu site, além de interligar as páginas com suas redes sociais. “Eu pagaria R$ 3 mil para me arriscar dessa forma? Para fazer uma brincadeira de mau gosto? Porque essa questão do CNJ foi uma brincadeira de mau gosto. Eu sou uma deputada séria, eu sei o que é certo e o que é errado, e eu acho que não participaria de uma piada de mau gosto com Alexandre de Moraes”, afirmou a deputada.

Contra Moraes  

Ainda que não haja uma aparente correlação, a PF afirma que o sistema do Banco Nacional de Mandados de Prisão do CNJ foi invadido e uma ordem falsa foi expedida contra o ministro Alexandre de Moraes. A PF também investiga a inserção de dez alvarás de soltura em benefício de presos espalhados pelo país. 

Na Câmara, a vida da deputada se complica por outras questões e falta de amigos. Ela é alvo de um processo por quebra de decoro no Conselho de Ética. Hoje o relator, deputado João Leão (PP-BA), votou a favor da continuidade da ação. Zambelli é acusada de ofender o deputado Duarte Junior (PSB-MA) durante uma audiência na presença do ministro da Justiça, Flávio Dino, em abril deste ano. Assim, a parlamentar segue em derrocada apenas por mérito de suas ações. Mesmo se as revelações do hacker não forem comprovadas, parece ser tarde demais para ela ao lado do bolsonarismo raiz que tentou alimentou nos palanques, redes sociais e tribuna.   

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