Recentemente, várias pesquisas apontaram a queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro. Trata-se de um baque e tanto. Em cerca de um mês, a aprovação do presidente caiu de 37 % para 26 %. A explicação para este fenômeno é simples e tem a ver com as trapalhadas do governo no combate à pandemia do coronavírus, além de alguns exageros verbais cometidos pelo presidente. Mas como se explica essa queda de popularidade combinada com outras pesquisas, que hoje apontam Bolsonaro como um candidato imbatível em 2022?
Em primeiro lugar, o presidente está ganhando por W.O., já que estamos ainda longe das eleições. Nomes como os de Sérgio Moro e de Luciano Huck ainda não foram submetidos oficialmente à apreciação popular e não chegam a ser uma unanimidade. Já a candidatura do governador João Doria padece de problemas diversos, a começar pela má vontade do eleitorado paulistano, até hoje irado com sua renúncia à prefeitura para se candidatar ao governo do Estado. Sua atitude em relação à pandemia também gera discussões: há defensores e detratores. Mas estamos falando de uma candidatura que precisa de um grande polimento, seja entre os eleitores da cidade de São Paulo, seja entre os estados do Nordeste. Para finalizar, Ciro Gomes está em seu patamar tradicional e os demais candidatos ainda não empolgam.
Além disso, o Brasil desafia qualquer lógica da política tradicional: este é um país sem oposição. Neste pormenor, talvez o único político que de fato pode ser considerado um opositor nas páginas da imprensa, mas sem uma quantidade expressiva de votos, é o deputado Rodrigo Maia. No entanto, a partir de hoje ele deixa a presidência da Câmara e perde boa parte de sua exposição pública.
Desmoralizados nas últimas eleições, os políticos do Partido dos Trabalhadores simplesmente não têm um discurso que cativa a sociedade e ainda têm de enfrentar o olhar cético dos eleitores que viram as intermináveis acusações de corrupção se materializar contra a sigla na época do Lava-Jato.
Temos um presidente que fala demais e cria polêmicas a partir do nada. Nem assim, o PT consegue se reagrupar e fazer críticas que tenham força. Isso também vale para os tucanos. O PSDB já diminuiu bastante e, se não tomar providências, pode ser rebaixado à condição de partido pequeno. Mas seu principal porta-voz, João Doria, repete sempre o mesmo discurso – o de que defende a ciência, ao contrário do presidente, e está engajado na preservação de vidas durante a pandemia. Percebe-se, no entanto, que essa linha não está empolgando, uma vez que a popularidade de Doria não consegue decolar.
A falta de nomes também pode ser associada ao medo de enfrentar a tropa de choque bolsonarista. Para isso, é preciso sangue frio e estômago de avestruz. Há um grupo organizado e bastante competente na arte de destruir reputações. Quando o ministro Sergio Moro saiu do governo, em questão de horas vieram memes agressivos, atacando o ex-juiz. Essa ação coordenada continuou e acusações seríssimas foram feitas a uma pessoa que, até algum tempo atrás, era cama-mesa-banho com o presidente da República e endeusado na mídia digital.
Seria cedo demais para discutir o assunto?
Vamos retroceder um pouco no tempo e pinçar uma pesquisa de 2016, dois anos antes da última eleição presidencial. Um estudo feito pelo Datafolha em julho de 2016 mostrava Luiz Inácio Lula da Silva na liderança, com 22% das intenções de voto, à frente de Marina Silva (17%) e Aécio Neves (14%). Jair Bolsonaro estava apenas na quarta colocação, com 7%, Ciro Gomes (PDT), com 5%, e Michel Temer (PMDB), com 5%. Votariam em branco ou nulo 18% e 7% não opinaram. No final das contas, essa pesquisa não acertou nem o índice de brancos e nulos – foram 9,5 % (somados às abstenções, porém, passaram da marca de 30 %).
Ou seja, dois anos antes da eleição, o vencedor de 2018 era visto com reservas e tinha uma intenção de voto ainda pequena. Os líderes nas pesquisas, Lula e Marina, não se deram bem: Lula não foi candidato e Marina se apequenou de vez.
Portanto, o resultado ainda está longe de ser conhecido. Bolsonaro, hoje, está onde Lula esteve, liderando com base no recall em torno de seu nome. Sofrerá um desgaste até lá? Pode ser que sim ou que não. Não podemos ainda prever o futuro numa distância tão longa. Mas podemos arriscar o seguinte: o estilo agressivo e negacionista deve trazer consequências negativas para o presidente no futuro e prejudicar sua intenção de se reeleger.