Ex-prefeita votou pelo impeachment de Dilma, ficou 9 anos no MDB, fez as pazes, mas conviverá com mágoas e desconfianças
A cerimônia de repatriação da ex-prefeita e ex-senadora Marta Suplicy ao Partido dos Trabalhadores (PT) não superou todas as mágoas de seus antigos e agora renovados colegas. Seu retorno para compor de vice na chapa de Guilherme Boulos (Psol) foi obra do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas o discurso de união e resgate do “PT raiz” desce como solução política amarga. Mesmo com sua alegada força eleitoral, é como se um cacique do Centrão andasse por aí com a estrelinha do PT no peito e boné do MST na cabeça. Confira os vídeos e leia a reportagem.
A principal queixa é o alegado “passado golpista”, já que em 2015 ela votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT) no Senado. Naquele momento de baixíssima popularidade do PT, Marta pulou do barco e chegou a enviar flores para uma das autoras do pedido, a advogada e depois deputada estadual paulista Janaína Paschoal (PSL, União e PRTB). O gesto até hoje é considerado uma afronta – mas em política, o irmão de anteontem pode ser o traidor de ontem e o salvador de hoje.
Sem contar que Marta poderia virar uma adversária difícil, se não ao ninho após se acertar com Lula, com quem sempre manteve boa relação. Ela ocupava desde janeiro de 2021 o cargo de secretária de Relações Internacionais do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que se viu obrigado a montar sua chapa à reeleição mais à direita, com as bênçãos e apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Agora Marta quer derrotar seu antigo chefe sob a desculpa que ele é um representante do bolsonarismo.
Na última sexta-feira (2), durante festa de filiação de Marta, figuras históricas do PT e Psol se posicionaram sobre o retorno da ex-prefeita. O deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) demonstrou respeito à articulação de Lula, mas declarou que o “constrangimento é dela”, ao se questionado sobre o histórico recente de Marta.
Já o deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP), presidente da Câmara Federal no mandato de Dilma, descartou possíveis desavenças internas, mas reconhece os deslizes políticos da companheira refiliada. “A votação dela e as suas palavras na época não agradam”, declarou.
Lideranças mais jovens da esquerda apontam uma insegurança pelo passado infiel de Marta. “Respeitamos a decisão do presidente (Lula), mas sabemos que ela (Marta) não é uma política das mais confiáveis. No entanto, o candidato da esquerda é o Boulos”, afirmou Guilherme Dantas, do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST).
Impugnação
O dirigente nacional do PT Valter Pomar vai pedir a impugnação da filiação. Ele pede que o pleito seja votado diretamente no diretório nacional do partido. “Com aquele voto [pelo impeachment de Dilma], Marta traiu parte do eleitorado que a havia colocado no Senado, traiu o partido do qual fizera parte até há pouco e que a elegera inúmeras vezes. E, principalmente, traiu o povo brasileiro, uma vez que ajudou a abrir caminho para vários anos de retrocesso econômico, político, social e cultural, que tantas vidas custaram e tanto sofrimento causou”, escreveu Pomar em seu blog.
Marta jamais falou publicamente sobre suas decisões políticas passadas e nem ensaiou qualquer desagravo, apenas afirmou, no palanque, que estava de volta ao seu aconchego. Na outra ponta, Dilma Rousseff também preferiu o silêncio.
O que MR publicou