A atividades da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga os erros e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia se encaminham para o final. A soma depoimentos e descobertas superaram em muito as expectativas, inicialmente direcionadas para a apuração das responsabilidades pelas mortes nos hospitais de Manaus pela falta de oxigênio. Só que as denúncias de fraudes na aquisição de imunizantes protagonizadas pela Precisa Medicamentos, o estranho caso da PM vendedor de vacinas da Davati Medical Supply e as denúncias de experimentos não autorizados com cloroquina nos hospitais da Prevent Senior, em São Paulo, abriram o leque para futuras investigações aparentemente recheadas de provas obtidas pela CPI. Há também fortes indícios da existência de um ativo gabinete paralelo para a promoção de tratamentos ineficazes dentro da cúpula do governo federal.
Esta semana, a comissão ouvirá o empresário Luciano Hang, controlador da rede Havan. Franco apoiador de Bolsonaro, ele estária envolvido com a propaganda dos tratamentos ineficazes. Isso poderá levar o colegiado de volta à sua origem, já que o gabinete paralelo e as denúncias de pesquisas ilegais e ocultação das causas de mortes de pacientes idosos devem trazer de volta aliados das teses presidenciais, como a oncologista Nise Yamaguchi, o virologista Paolo Zanotto e o empresário Carlos Wizard.
Com encerramento previsto para 7 de outubro, a CPI entregará sua conclusões à Procuradoria-geral da República (PGR) para que as devidas investigações, inquéritos e ações judiciais, quando for o caso. Acompanhada ao vivo pela TV em ritmo de reality show, a comissão é um instrumento de fiscalização do Congresso, mas não possui poderes plenos de Justiça. Também não há garantias sobre a postura da PGR, tendo vista seu procurador-geral, Augusto Aras, ser alinhado ao governo – que o reconduziu a um segundo mandato no cargo – e tentar uma vaga ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Se a PGR resolver avançar com as investigações ou apenas aceitar como provas suficientes os depoimentos e os documentos – conteúdo em grande parte desconhecido -, será o suficiente para colocar o núcleo do Executivo em maus lençóis, incluindo o presidente Jair Bolsonaro e seus principais colaboradores, como o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello (imagem).