Em entrevista a MONEY REPORT, o cientista político e professor da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) Jorge Zaverucha diz que, embora a candidatura do petista Fernando Haddad não represente um risco à democracia, seu partido, o PT, e seus membros colocam em perigo o processo democrático. Para Zaverucha, a democracia vem sendo aos poucos posta em perigo. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Se eleito, Fernando Haddad (PT) será uma ameaça à democracia?
Não acredito nisso. Fernando Haddad tem um perfil democrata, não tem esse histórico de ameaça, risco e perigo.
Mas é de um partido que alguns membros dizem que, se chegar ao poder, vai “dar o troco”. Isso não é um risco?
Uma coisa são as declarações dos membros do partido, outra coisa é quem vai compor o governo de Haddad. O risco está nessas pessoas do partido. A senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, por exemplo. Se depender dela, o juiz Sérgio Moro já estaria preso, assim como vários outros integrantes da Operação Lava Jato. Antes de pensar num futuro risco à democracia, gosto de ressaltar que hoje ela (democracia) já está é ameaçada.
Como assim?
O que quero dizer é que algumas coisas que vêm acontecendo no país já são indícios de ameaças. Por exemplo, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), permitir que o ex-presidente Lula dê entrevista a jornal de dentro da cadeia, isso é um risco, pois uma juíza já havia negado essa autorização ao petista. Outro caso é o STF ser presidido por um ministro (Dias Toffoli) que já foi advogado do PT. Em nenhum lugar sério do mundo um advogado de um partido político vira presidente da Suprema Corte. Sem contar que ele trabalhou na Casa Civil sob o comando do ex-ministro José Dirceu. Sabemos quem é Dirceu e o que ele tem falado hoje.
O ex-ministro José Dirceu disse em entrevista que “é uma questão de tempo para a gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”. Qual sua opinião sobre isso?
É uma declaração autoritária. Não se toma o poder, o poder é do povo. O que faz um presidente ganhar uma eleição é o voto das pessoas. Quem toma o poder são pessoas autoritárias que acham que podem substituir o povo. A declaração de José Dirceu é grave e perigosa.
Perigosa em que sentido?
É perigosa no sentido de que é autoritária. José Dirceu tem preparo ideológico, é treinado pela inteligência cubana, com forte influência marxista e bolivariana.
José Dirceu poderá influenciar um provável governo Haddad?
Dirceu é um nome forte dentro do partido, isso já diz muito. Observei que, até agora, Haddad está em cima do muro, não desmentiu essa história de “tomar o poder”. Na minha opinião, isso demonstra o poder de Dirceu dentro de um governo petista, pois o próprio presidenciável da legenda não se manifestou sobre isso.
O ex-presidente Lula, embora preso, dá as cartas na campanha petista. Em um governo de Haddad, Lula terá toda essa autoridade também?
Sim. Lula é uma pessoa operacional, o posto Ipiranga de Haddad e continuará interferindo. É possível que Haddad, se eleito presidente, irá visitar Lula na cadeia em Curitiba para receber as ordens dele.
Há espaço para um golpe militar no país?
Não vejo isso. Pelo tanto que algumas pessoas imploram por intervenção militar, se as forças armadas quisessem, já teriam interferido no processo democrático há muito tempo. O Exército não quer o ônus de ser governo.