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Dois tipos de protesto: silencioso e explícito

Nas eleições de São Paulo, tivemos dois tipos de protesto. O mais visível se traduz na votação expressiva de Pablo Marçal, que chegou em terceiro lugar, colado em Guilherme Boulos. Mas outro tipo de objeção, esta silenciosa, pôde ser vista no pleito paulistano: 34,47% dos eleitores preferiram não escolher nenhum candidato (entre ausentes, nulos e brancos). Em números, isso representa mais de 3 milhões de pessoas. Somemos isso à votação de Marçal e chegaremos a mais de metade do eleitorado da capital paulista.

Trata-se de um nível de absenteísmo superado apenas em 2020, ano da pandemia. O desânimo dos paulistanos pela eleição da maior cidade brasileira pode mostrar que o atual nível da política não entusiasma boa parte dos cidadãos. No caso das abstenções, a falta de interesse é tamanha que os eleitores preferiram ficar em casa, viajar ou arrumar uma diversão qualquer.

Talvez esse fenômeno esteja ligado ao perfil dos candidatos que concorreram ao primeiro turno. Dos principais, dois deixaram a desejar no critério carisma: o prefeito Ricardo Nunes e o deputado federal Guilherme Boulos, que vestiu um figurino “picolé de chuchu da esquerda” para essa eleição, de olho no eleitorado de centro.

O mais carismático, disparadamente, foi Pablo Marçal. Mas sua atuação foi tão agressiva que conseguiu uma desaprovação espetacular: segundo o Datafolha, a rejeição dele, na última semana, chegou a 53% — um índice jamais visto entre os líderes de votação.

O que teria acontecido se Pablo Marçal não tivesse postado um laudo falso sobre o consumo de drogas pelo oponente Boulos? Ele chegaria ao segundo turno? Possivelmente. Marçal perdeu a vaga na etapa seguinte das eleições por exatos 56.864 votos. Em um universo de 9 milhões de eleitores, é uma diferença mínima, equivalente ao público de uma partida de futebol.

Em uma disputa parelha como essa, qualquer movimento conta. O índice de 53% de rejeição a Marçal foi registrado antes da divulgação do laudo. Isso significa que o candidato do PRTB chegou ao domingo com uma desaprovação possivelmente maior que a captada pelo Datafolha.

Mas vamos nos concentrar nesses 53 %. Isso, em tese, quer dizer que o universo eleitoral e Marçal estaria restrito a 47% dos paulistanos. Estamos, então, falando de 4,38 milhões. Ele obteve um naco significativo deste grupo, cerca de 36% do total. Nunes, por sua vez, registrou uma rejeição de 25%. Seu público potencial, assim, era de quase 7 milhões de eleitores. Ele conquistou 25 % deste total.

Chama a atenção também o fato de que o PRTB não ter conseguido eleger nenhum vereador, mesmo com seu candidato chegando em terceiro lugar, com uma votação parecida com a dos líderes. Isso mostra que o fenômeno Marçal tem como foco a pessoa física que concorreu ao cargo. Pessoa essa que não se preocupou em trabalhar uma base de apoio na Câmara. Se ele eventualmente vencesse essa eleição, teria, de início, quase nenhum apoio da Câmara Municipal.

Os dois tipos de protesto registrados nessa eleição não podem ser ignorados. O eleitorado, cada vez mais, está insatisfeito com a classe política, que precisa se adaptar aos novos tempos e parar de agir como sempre. Desta vez, um outsider como Marçal perdeu por pouco. Mas, nos próximos pleitos, a vitória pode ser de alguém que surja para desafiar o status quo.

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