De acordo com especialistas, os estrangeiros têm uma visão mais positiva do petista que o mercado local
O mercado financeiro dá indícios de estar com boas expectativas para o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente do Brasil. O dólar começou o dia em alta frente ao real, logo após a eleição. Assim como o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, o início da sessão foi de desânimo. Mas logo o mercado começou a reagir e tanto a bolsa voltou a subir como o dólar passou a cair. Na medida em que o apetite ao risco voltava pouco a pouco, também se valorizava o real. No fechamento, a moeda americana valia R$ 5,16, queda de 2,54% na cotação do tipo comercial.
A bolsa de valores teve comportamento semelhante. O Ibovespa, principal índice da B3, a bolsa de São Paulo, amanheceu com forte queda, mas se recuperou ao longo do dia e fechou com alta.
Um dos motivos para virada pode ser explicado pela entrada de investimento estrangeiro hoje na bolsa, que ajudou o Ibovespa a se recuperar. De acordo com especialistas, os estrangeiros têm uma visão mais positiva de Lula que o mercado local.
“Apesar da definição das eleições, as incertezas que vinham perturbando os mercados nas últimas semanas ainda não se dissiparam. Persiste a incerteza sobre como será a condução da política econômica a partir de 1º de janeiro, quando começa o governo Lula”, analisou Thais Zara, economista da LCA Consultores. Isso, somado às incertezas sobre a reação do presidente Bolsonaro, gera “volatilidade” e oscilações nos mercados, disse Zara.
Fim das incertezas
Uma das máximas mais repetidas pelos investidores de todo o mundo é que o mercado odeia incertezas — e é por isso que os próximos dias devem ser de pressão para o câmbio e o mercado de juros. Mas o consenso é o de que esse movimento não deve ser muito agressivo.
Apesar das incertezas, o mercado já conhece a forma Lula de se governar e acredita que ele pode ser capaz de indicar uma equipe econômica que contemple um time de perfis diferentes, capaz de agradar o mercado. Além disso, a formação de centro-direita do novo Congresso deve impedir medidas mais radicais.
“Ainda não sabemos qual o ministro da economia de Lula. O mercado tem predileção por alguns nomes que cercam o ex-presidente, como Armínio Fraga ou Henrique Meirelles. Na ocasião de um deles venha a ser nomeado pelo Executivo, o estresse do dólar abaixa e poderíamos romper o ponto de resistência do câmbio em R$ 5,20”, diz Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.
Apesar da forte apreensão do mercado local com a vitória do petista, o investidor internacional pode ajudar a equilibrar os pratos. José Baltieri, gestor do fundo ASA Small Mid Cap, explica que o estrangeiro tende a ter uma visão mais positiva de Lula, herdada do tempo de vacas gordas do primeiro mandato do presidente. “Isso é importante para continuar atraindo fluxo para a bolsa brasileira, que está barata. Isso ajuda a dar sustentação e fazer o preço dos ativos subirem”.