Em 1950, Carlos Lacerda disse sobre Getúlio Vargas, que ensaiava uma volta à vida pública através do voto direto: “Não pode ser candidato. Se for, não pode ser eleito. Se eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar”. Lacerda nutria um ódio absoluto contra o ex-ditador e teve papel preponderante nos fatos que levaram Vargas ao suicídio.
Essa frase é uma das grandes máximas da política brasileira e sempre lembrada quando existe um grande confronto no front eleitoral. No caso de Lacerda e Getúlio Vargas, ambos eram inimigos com estruturas partidárias diferentes.
Mas, e quando o adversário está dentro do próprio partido?
Durante todo o processo de prévias do PSDB, o desconforto da cúpula do partido com a candidatura do governador João Doria foi evidente. Pelas regras normais, cada filiado ao partido teria direito a um voto igual ao dos dirigentes. Só que, neste caso, o governador liquidaria sem surpresas a fatura, pois contava com o maior número de militantes tucanos. O sistema eleitoral das prévias, assim, foi modificado, de forma a garantir que políticos com mandatos e dirigentes partidários tivessem um peso maior na votação, concentrando 75 % do poder decisório.
Com isso, o Olimpo tucano esperava que João Doria perdesse as prévias. Só que o governador tratou de filiar uma infinidade de prefeitos e vice-prefeitos ao partido. Com esses eleitores, conseguiu a indicação.
Apesar disso, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, disse há pouco ao site “O Antagonista” que conversava com outras agremiações com o objetivo de promover uma espécie de prévia para escolher um candidato único da Terceira Via.
Ou seja, o esforço para que Doria não seja candidato continua firme e forte.
Haveria, assim, uma consulta popular para encontrar uma só candidatura entre as opções de PSDB, MDB, Podemos, União Brasil e outros. Na prática, o governador teria de enfrentar um segundo turno com Sergio Moro, Simone Tebet e outros.
Conseguirá Doria derrotar Moro nestas novas prévias? Tudo vai depender das regras – se é que essa eleição pluripartidária vai sair do papel e ser mesmo realizada.