Ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica complicaram mais ainda a situação do ex-presidente, que fica mais sozinho na trama da intentona
Rafael Ferreira
Os depoimentos à Polícia Federal (PF) dos ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica, general Marco Antonio Freire Gomes, e brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior, além do general da reserva Laercio Virgílio, confirmaram as suspeitas de participação central do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na organização da tentativa frustrada de golpe. Este episódio praticamente determina que houve uma ruptura com os militares logo após o segundo turno. Sem os tradicionais apoiadores do então mandatário, a tentativa de golpe deu no grande quebra-quebra de 8 de janeiro, que contou com a omissão das autoridades de segurança do Distrito Federal e de parte dos militares responsáveis pela segurança do Palácio do Planalto. (Confira a íntegra do depoimento de Freire Gomes).
Os ex-comandantes da FAB e do Exército disseram, em separado, terem se manifestado contra qualquer tipo de ruptura. O único a ter colocado “as tropas à disposição” foi o então comandante da Marinha, almirante de esquadra Almir Garnier, que preferiu ficar em silêncio quando compareceu para depor na PF, em 22 de fevereiro.
Batista Jr. ainda revelou que Freire Gomes ameaçou prender Bolsonaro caso ele insistisse na hipótese de atentar contra o regime democrático de Direito. No entanto, o ex-comandante do Exército não citou isso em seu depoimento, tendo apenas recordado das reuniões onde se discutiu a utilização de um dispositivo de uma “GLO [Garantia da Lei e da Ordem], estado de defesa e estado de sítio em relação ao processo eleitoral.” (Confira a íntegra do depoimento).
O coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, também foi chamado para seu sétimo depoimento à Polícia Federal (PF). Mensagens encontradas em seu celular confirmaram que, apesar do ex-presidente ter sido alertado de que os resultados das urnas eram confiáveis, houve continuidade na elaboração da minuta do golpe e disseminação de fake news eleitoral.
Outro militar que prestou depoimento foi o general da reserva do Exército Laercio Vergílio. Sem tropa alguma sob suas ordens, ele afirmou que foi cogitada a prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, para a volta da normalidade institucional e a harmonia entre os poderes. Ainda que tenha se mostrado favorável, o militar de pijama negou que tenha planejado ou executado qualquer monitoramento do ministro do Judiciário.
Já o general Estevam Theophilo, ex- comandante do Comando de Operações Terrestres (COTER) do Exército, disse que não foi apresentada nenhuma minuta e que desconhecia qualquer tentativa de monitoramento e prisão do ministro Alexandre de Moraes. Ainda afirmou que apenas foi chamado por Bolsonaro para uma conversa de “desabafo”, mas que não tinha nenhuma relação pessoal com o ex-presidente.(Confira a íntegra do depoimento).
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