Comício reuniu cerca de 18 mil na orla. Inelegível, ex-presidente disse que sua ausência na eleição de 26 será “negar a democracia”
No alto de um carro de som ao lado de apoiadores políticos, o ex-presidente Jair Bolsonaro comandou, na manhã deste domingo (16), na orla de Copacabana, Rio, um ato em defesa da anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de de janeiro de 2023. Na prática, Bolsonaro busca evitar uma provável de prisão decorrente do processo pela trama golpista que o envolveu junto com militares, ex-ministros e assessores. No próximo dia 25 será julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) se parte destes envolvidos serão transformados em réus.
É a primeira manifestação pública desde que a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou o ex-presidente por tentativa de golpe. No comício, que reuniu 18,3 mil pessoas, ele criticou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, relator do processo do golpe, por conduzir “inquéritos que são secretos” – omitindo que os dados foram abertos às defesas. O ato interditou o tráfego na Avenida Atlântica, entre as ruas Barão de Ipanema e Xavier da Silveira. A estimativa de público foi dada pela Universidade de São Paulo (USP), por meio de análises de imagens aéreas que mostram concentrações de público.
Em um discurso longo, de quase 40 minutos, Bolsonaro pediu anistia e atacou o governo Lula: “Eu jamais esperava um dia estar lutando por anistia de pessoas de bem, de pessoas que não cometeram nenhum ato de maldade, que não tinham intenção, e nem poder pra fazer aquilo que estão sendo acusados”, disse, mencionando o nome de algumas das mulheres condenadas. Todas julgadas com provas e rejeições de acordos. Outras voltaram à prisão por cumprimento de fases do processo. “Quem foi a liderança dessas pessoas? Não tiveram. Foram atraídas pra uma armadilha”, disse.

Bolsonaro afirmou que não fugirá do Brasil para evitar uma eventual prisão ordenada pelo STF. “O que eles querem é uma condenação. Se é 17 anos para as pessoas humildes, é para justificar 28 anos para mim. Não vou sair do Brasil”, disse. Ele afirmou ter “obsessão pelo poder”, mas tem “paixão pelo Brasil”.
Kassab
O ex-presidente afirmou que outros partidos apoiam a anistia, apesar do assunto ter sido descartado pelo novo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). “Não é só o PL não, tem gente boa em todos os partidos, o Kassab está ao nosso lado para aprovar a anistia em Brasília”, declarou o ex-presidente.
Apesar de inelegível, o ex-presidente afirmou desejar concorrer em 2026, já que eleições sem a sua presença “são negar a democracia no país” e que ele gostaria de “mudar os destinos do Brasil).
Participaram do evento os governadores do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), de São Paulo, Tarcísio Freitas (Republicanos), de Santa Catarina , Jorginho Mello (PL), e de Mato Grosso, Mauro Mendes (União), além dos Flávio Bolsonaro (PL) e Magno Malta (PL), o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, e o pastor neopentecostal Silas Malafaia, que coordenou o evento.
Este foi o terceiro comício de Bolsonaro financiado pelo líder religioso, que organizou os atos de 25 de fevereiro e de 7 de setembro de 2024, ambos na Avenida Paulista, em São Paulo.
– Jair Bolsonaro.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) March 16, 2025
– Copacabana/RJ.
– Domingo, 16/mar, 11h. pic.twitter.com/iXUXKAmAIg
Condenados e investigados
O primeiro grupo de investigados pela trama golpista é composto de: Jair Bolsonaro; Braga Netto, general da reserva, ex-ministro da Casa Civil e vice na chapa de Bolsonaro em 2022; Augusto Heleno, general da reserva e ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional; Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin); Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de segurança do Distrito Federal; Almir Garnier, almirante e ex-comandante da Marinha; Paulo Sérgio Nogueira, general da reserva e ex-ministro da Defesa; e tenente-coronel Mauro Cid, delator de ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Até a sexta-feira (14), 481 pessoas foram condenadas pelo STF por envolvimento na invasão e depredação da Praça dos 3 Poderes. Dessas, 255 tiveram suas ações classificadas como graves. Oito dos investigados absolvidos.
As penas mais pesadas chegam a 17 anos e 6 meses de prisão por golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e dano qualificado. As mais leves são de um ano por crimes de associação criminosa e incitação ao crime, acabaram substituídos por penas de restrição de direitos.