Head of partnerships da empresa de venture FirCapital, Paulo Dalla Nora Macedo participou de um debate sobre parcerias público-privadas (PPPs) na nova era da responsabilidade social corporativa. A conversa ocorreu nesta sexta-feira (29), último dia do Fórum Econômico Mundial, que a cada ano trata de questões sócio-políticas, ambientais e de desenvolvimento, sempre com a participação de líderes globais e grandes empresários e investidores. Este ano o encontro ocorreu de modo on-line.
Macedo aproveitou a oportunidade para explicar como o mecanismo das PPPs pode dinamizar as relações entre empresas, governos e sociedade civil. Ele alertou que no Brasil, as organizações que esperarem para analisar seus custos sociais mais tarde, poderão ficar para trás. Ele conversou com MONEY REPORT pouco antes do evento.
A pandemia apresentou uma nova realidade às empresas e governos sobre as parcerias público-privadas?
A grande transformação que está em curso indica que as novas parcerias terão maior responsabilidade social e corporativa. Até agora, o grande empecilho para as PPPs é que havia dois entes – as empresas e os governos – que não se entendiam muito. O agente privado, de olho no lucro, e o estado de olho nos impactos sociais e políticos. Com a amadurecimento da responsabilidade social corporativa, houve uma convergência de interesses, com as empresas se aproximando dos KPIs [indicadores-chaves de desempenho] dos governos para medir impactos. Essa convergência é o definidor da mudança.
E como a opinião pública pode se fazer parte desse processo?
O grande drive disso tudo é a informação, que está mais disponível e permite indicadores muito mais precisos que no passado recente. Um exemplo: hoje é possível medir com precisão o nível de poluição carregado pelo vento em torno de certas indústrias e qual o impacto das partículas na incidência de doenças respiratórias em determinadas áreas, quantificando na forma de gastos do sistema de saúde pública para atender a população. Antes, não havia tecnologia para obter tanta informação em tão pouco tempo. Esses dados estavam dispersos. Hoje, com esses dados cruzados, é possível tentar uma PPP para minimizar esse impacto na saúde, evitando custos para o estado e a responsabilizações para as empresas.
“Com a medição de impactos, teríamos políticas públicas direcionadas, o que abriria possibilidades de parcerias público-privadas”
Paulo Macedo, head of partnerships da FirCapital
Temos outros exemplos?
Em breve poderemos medir o impacto ambiental dos veículos de entregas da Amazon em Nova York em tempo real. Com isso, será possível saber que prestador de serviço trabalha de acordo com as normas. Outro exemplo vem das indenizações pagas no passado pelas grandes empresas de cigarros. Antes era difícil medir o resultado dessas ações. Hoje é possível apontar o quanto será gasto em saúde por cada maço vendido. Com isso, é possível estabelecer o preço do cigarro de trás para frente, com o custo sanitário embutido.
O Brasil pode adotar esse tipo de solução?
Aqui, a equipe econômica parece não ter esse olhar. É como se eles esperassem por um mercado mais amplo e desregulado para daí tentar sofisticar a análise de custo social. Penso o contrário. Acho que deveríamos entrar em um universo mais liberal já com esta lógica, pois as empresas que não forem guiadas desta forma vão ficar para trás.
Onde entrariam as PPPs?
Com a medição de impactos, teríamos políticas públicas direcionadas, o que abriria possibilidades de parcerias público-privadas. De um lado, o estado quer reduzir o gasto provocado por uma empresa, de outro, a iniciativa privada quer evitar mais custos.
Em quais questões globais as PPPs podem ser fundamentais?
A pandemia é o exemplo mais extremo. Temos vacinas que custam 10 dólares a dose que evitam dezenas de milhares de dólares em uma única internação em UTI. Só pela lógica pura do resultado e do lucro, uma vacina dessas deveria sair por 10 mil reais a dose. Ficou claro para quase todos que só os governos têm capacidade para isso.
Pesquisa e desenvolvimento (P&D) podem ser um motivador para atração de empresas às PPPs?
Bill Gates afirmou, em um comunicado no final do ano, que o governo americano precisaria investir cinco vezes mais em pesquisas de energias limpas para refrear o aquecimento global. É muita coisa. Em questões de inovação, muitas vezes é preciso contar com o financiamento público, já que só governos podem correr certos riscos para se beneficiar de resultados muitas vezes amplos demais, como no caso das vacinas. Os governos não têm benefícios diretos, mas deixarão de gastar após darem o respaldo financeiro para as pesquisas que produziram vacinas novas em menos de um ano. Em inovação, a mensuração das variáveis vai bem além dos lucros.