De 2011 ao primeiro semestre de 2021 foram registradas mais de 200 mil denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes, apontam dados colhidos pelo serviço Disque 100 da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos. A suspeita é que menos de 10% dos casos sejam notificados. Por isso, 18 de maio foi escolhido para ser o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Nessa data, em 1973, a garota Araceli Cabrera Sánchez Crespo, de 8 anos, foi assassinada, em Vitória, Espírito Santo. Espancada, estuprada, drogada, morta e desfigurada com ácido, seu corpo foi encontrado seis dias depois.
O Caso Araceli poderia ser a tragédia necessária para uma mudança na sociedade. Mas os suspeitos foram absolvidos e o crime, arquivado. Para cada assassinato como o seu, ocorrem centenas de milhares de agressões a cada ano. Por isso, foi criado o Maio Laranja, que tenta prevenir, orientar e combater o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes por meio do Programa Nacional de Enfrentamento à Violência Contra Crianças e Adolescentes.
“Eu desafio as pessoas a pensarem em um caso de violência sexual do qual sabem, ou até viveram, e que nunca foi noticiado”
Luciana Temer, presidente do Instituto Liberta
Só que a ação estatal não é suficiente. Com ajuda de empresas e doadores, entidades sociais como o Instituto Liberta atuam com afinco no combate desses crimes e no apoio às vítimas. “É preciso entender a vulnerabilidade, mergulhar nela, para então participar da transformação. Não tem um governo que chegue e resolva. Não tem milagre”, diz sua presidente, Luciana Temer, que já participou de debates de MONEY REPORT sobre empreendedorismo social. A entidade foi criada pelo filantropo Eli Horn.
Luciana e seu equipe desenvolvem trabalhos de conscientização entre crianças, famílias e educadores. O Liberta lançou um desafio para os profissionais da educação estadual de São Paulo: elaborar projetos que denunciem a violência sexual. Aqueles com maior potencial de transformação serão avaliados na Universidade de Columbia (NY), parceira do instituto. “Crianças não se prostituem. Elas são prostituídas pela sociedade”, diz Luciana.
“O abusador está dentro de casa ou frequenta a casa ou faz parte do núcleo familiar”
Raquel de Andrade, presidente do Instituto Infância Protegida
O maior obstáculo é a identificação do agressor. De acordo com Elaine Amazonas, gerente da ONG Plan International na Bahia, na maioria das vezes o abusador não deixa sinais físicos. É preciso estar atento às mudanças repentinas de comportamento. “Muitas vezes a criança se apresenta mais irritadiça, apresenta ansiedade, dores no corpo, na cabeça, barriga, sem uma explicação mais lógica. [Apresenta] alterações gastrointestinais. Raiva, rebeldia. Muitas crianças ficam mais introspectivas, não querem conversar, têm pesadelos constantes voltam a fazer xixi na cama, chupar dedos”, enumera. “Infelizmente o pedófilo, o abusador, está dentro de casa ou frequenta a casa ou faz parte do núcleo familiar em que aquele menor convive”, afirma Raquel de Andrade, presidente do Instituto Infância Protegida, organização não governamental (ONG) do Espírito Santo.
Daí a necessidade de atenção e de denúncia.
“Se todo mundo que sofreu uma violência sexual for para a janela e gritar, será um barulho ensurdecedor”
Luciana Temer, presidente do Instituto Liberta
Fique atento aos sinais
O que fazer?
(Com MONEY REPORT e Agência Brasil)