Nunca dois adversários políticos foram tão combativos como Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos disputam a preferência do eleitorado com denodo e perseverança – e têm grupos fidelíssimos de apoiadores, tanto no mundo real como na vida digital. São os líderes das pesquisas de intenção de voto e ambos pregam o voto útil. Seus apoiadores acreditam em uma vitória no primeiro turno. Mas, por enquanto, essa possibilidade é capturada nas pesquisas apenas em relação ao postulante do PT.
A disputa ferrenha, no entanto, pode ser o primeiro e último embate entre os dois políticos. Vamos imaginar que Bolsonaro ganhe. Neste caso, mesmo que Lula volte à disputa em 2026, o atual presidente não poderia disputar, pois apenas uma reeleição é permitida. Mas, e se Lula vencer o pleito de 2022? Ele completará 80 anos em 2026. Será que terá disposição para encarar uma campanha nacional? Talvez não. E pode ser que o Centrão, nesse meio tempo, resolva acabar com o mecanismo da reeleição, o que deixaria Lula sem ter o que fazer diante de eventuais novas regras eleitorais.
Bolsonaro ainda poderá ficar no cenário político por alguns anos, sem necessariamente pensar em criar um herdeiro político. Por outro lado, Lula já deve estar pensando nessa possibilidade. Afinal, a esquerda tem hoje várias lideranças fragmentadas, mas nenhum nome com o mesmo capital político do ex-presidente. Alguns nomes despontam no horizonte, como o ex-ministro Fernando Haddad ou o psolista Guilherme Boulos. Tudo vai depender do grau de radicalismo que Lula vai desejar impor ao seu legado. Isso também terá a ver com o resultado de 2022. Vitorioso, o petista pode optar por uma herança mais moderada, como Haddad ou até o ex-governador Geraldo Alckmin, vice em sua chapa atual. Mas, se derrotado, pode escolher um nome mais radical como Boulos, que tem forte apelo junto à juventude, como se pôde conferir nas eleições municipais de 2020.
Mas sempre haverá a possibilidade de Lula pode surpreender e disputar o pleito de 2026. Se Bolsonaro perder a atual e eleição e quiser voltar ao Planalto, isso vai colocá-los novamente em condição de embate direto. Essa nova disputa será em novas bases, mais moderadas? Dificilmente. E o que é pior: em quatro anos, a tecnologia vai dar novos saltos e criar novas ferramentas para amplificar posts digitais e aperfeiçoar os deep fakes.
Os otimistas podem acreditar que os candidatos, mais maduros, estabeleçam um debate centrado em propostas concretas. Os mais conectados com a realidade, porém, devem se manter céticos. Militantes apaixonados podem crescer intelectual e emocionalmente. Mas isso será possível em um cenário de polarização, que deve marcar o mandato do próximo presidente, seja ele quem for?
Mais que isso: o país conseguirá aguentar a manifestação explícita de ódio entre as principais correntes políticas brasileiras? Vamos torcer para que esses ânimos sejam refreados nos próximos anos – e que tenhamos eleições daqui a quatro anos com maior serenidade e debates mais racionais, com propostas efetivas e factuais para melhorar o futuro no Brasil.
Uma resposta
Ânimos refreados e novas lideranças. Os candidatos atuais já cansaram boa parte dos eleitores.