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“Fascista” e “comunista”: os xingamentos preferidos entre oponentes

Nesta semana, um tanto abalada pela ascensão de Donald Trump nas pesquisas eleitorais, Kamala Harris chamou o oponente de “fascista”. Disse que os eleitores americanos tinham de se mobilizar para “não ter um presidente que admira ditadores e é um fascista”. Do outro lado do balcão, Trump chamou a oponente diversas vezes de “comunista” – e até se refere a ela como “Camarada Kamala”.

Aqui no Brasil, essa troca de farpas também existe e pode ser atribuída aos tempos de polarização política. Na campanha pela prefeitura de São Paulo, “comunista” virou “extremista” – é como Ricardo Nunes chama seu adversário, Guilherme Boulos. O candidato do PSOL, por sua vez, disse que o prefeito “está preocupado só com privilégios e com defender ideologia de ódio da extrema direita”.

Apesar da virulência que observamos dentro de um ambiente polarizado, não deixa de ser interessante ver como os insultos de campanha – muitas vezes pesadíssimos – podem ser esquecidos de acordo com os interesses transitórios dos políticos.

O próprio Boulos é um exemplo disso. Na última quarta-feira, ele contou com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin em seu palanque. Na campanha de 2018, no entanto, os dois trocaram cutucões em debates transmitidos pela televisão. “Alckmin, cadê o dinheiro da merenda?”, questionou o candidato, referindo-se a acusações sobre desvio na verba de alimentação dos estudantes das escolas estaduais. Alckmin respondeu com ironia: “Sempre trabalhei, não sou desocupado, não invadi propriedades”.

Os insultos têm mais a ver com aquilo que os detratores acham condenável – não necessariamente com algo que vá de fato ter impacto sobre aqueles que são agredidos verbalmente. Boulos até pode não se achar mais um extremista, mas – em seu íntimo – não ficará muito ofendido ao ser chamado como tal. Ao mesmo tempo, Nunes tinha noção, ao fazer um acordo com Jair Bolsonaro, eu poderia ser associado à extrema direita. Mas ele perderá o sono por causa disso? Dificilmente.

Há alguns anos, em um grupo de WhastApp, presenciei uma discussão entre dois membros. Um chamava o outro de “esquerdista”, por conta do teor de suas postagens. O que foi acusado de esquerdismo ficou indignado e questionou o colega: “Como você se sentiria se eu o chamasse de empresário ‘direitinha’?”. O interlocutor respondeu: “Por mim, nenhum problema. Eu sou de direita mesmo”.

Há muitos anos, tive uma discussão pesada com meu pai. Ele, chateado com alguma coisa que eu havia dito, me chamou de “autoritário”. Na hora, nem liguei e continuei a minha argumentação. Depois, repassando a conversa em minha cabeça, cheguei à conclusão de que, para alguém que foi perseguido pela ditatura militar, como meu pai fora, “autoritário” era um tremendo xingamento – mas, para mim, era um ataque que pouco surtia efeito.

No fundo, essa troca de ofensas entre políticos é um tremendo jogo de cena, com poucos efeitos práticos. Como disse Nicolau Maquiavel, a sabedoria não está em ofender os adversários. “O homem prudente é aquele que se abstém de ameaças e palavras insultuosas contra qualquer um, pois nenhuma delas diminui a força do inimigo”, escreveu o filósofo florentino, que estabeleceu as bases da ciência política.

O grande estrago, nestes confrontos, não está no desacato – e sim nas bobagens que os próprios candidatos acabam dizendo. Um passo em falso, nessas horas, tem um efeito muito maior que o de mil injúrias.

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