O debate eleitoral começou pontualmente às 22:30. O clima nos bastidores era expectativa. Afinal, muitos analistas políticos diziam que o presidente Jair Bolsonaro estava furioso com a investigação em torno dos gastos pessoais da primeira-dama Michelle (cujas informações teriam sido vazadas à imprensa pelo ministro Alexandre de Moraes, segundo o Planalto). Uma outra grande preocupação dos assessores presidenciais era o documento elaborado pelo Partido Liberal, publicado pela revista Veja, que mais uma vez levantou dúvidas quanto à lisura do processo eleitoral eletrônico. A inquietação era em relação à eventual reação do presidente à uma pergunta sobre o assunto. Mas, no final, ninguém tocou em nenhum desses pontos.
Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva e os demais candidatos tiraram a tarde para se preparar para o debate, Bolsonaro dispensou qualquer tipo de treinamento, alegando que já tinha todas as informações necessárias para o programa de TV. Ocorre que esse tipo de preparação é importante para que o debatedor consiga antecipar perguntas difíceis e ouça orientações sobre como proceder em situações complicadas. O presidente preferiu ignorar essas precauções. Mas, como esse debate é o último antes da eleição em primeiro turno, pode-se comparar o mandatário a um time de futebol que entrou em campo sem treinar para uma partida importante.
Bolsonaro agiu como sempre, lacrando quando podia e batendo forte em Lula, que ficou no centro da ribalta logo no início. Ciro Gomes foi na mesma linha e foi o primeiro a inquirir o ex-presidente. Perguntou sobre a concentração de riqueza e endividamento das famílias que teria surgido nos governos do PT. Lula rebateu com o aumento da renda, de emprego e dos programas sociais – mas com um tom agressivo. Recuperou a calma e alfinetou: “estou achando você nervoso”, disse. “Você saiu do meu governo para ser deputado, mas eu queria que fosse para o BNDES”.
Apesar das regras que amarram o embate entre candidatos, o debate de ontem mostrou uma sequência de direitos de respostas – a maioria distribuída entre Lula e Bolsonaro. Essa cadeia de respostas tirou o tom modorrento desse tipo de programa e deu ânimo aos telespectadores. Os termos “mentiroso” e “ex-presidiário” foram bastante utilizados nesses momentos.
A impressão que se teve foi a de que Lula saiu da retranca e foi para o ataque. Adotou um estilo mais agressivo e bateu duro quando Padre Kelmon o atacou, dizendo que o oponente não era clérigo e que “estava fantasiado” (em nota divulgada no último dia 14, por sinal, a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia no Brasil afirmou que o petebista não tem ligações com organizações ortodoxas presentes no Brasil). Lula também chamou o ex-presidente Michel Temer de “golpista” e expôs indignação quando foi confrontado com a acusação de ser mandante do assassinato do ex-prefeito Celso Daniel.
Simone Tebet, que teve uma boa participação, conseguiu resumir bem o espírito deste debate: uma sequência de ataques mútuos entre os candidatos que estão no topo das pesquisas. “Se um for eleito, não vai deixar o outro governar”, disse.
Mudou alguma coisa? Esse debate conseguiu transformar o voto de algum telespectador? Dificilmente. Talvez tenha sensibilizado alguns indecisos a aderir a Simone Tebet – mas esse movimento tem a possibilidade de ser neutralizado pelos partidários do voto útil que podem abandonar o seu barco e o de Ciro Gomes.
Esse debate, embora mais agitado, também não teve muito espaço dedicado a propostas efetivas de governo. Mais uma vez perdemos a oportunidade de discutir propostas de governo e falar sobre o futuro de uma nação.
Neste domingo, exerça seu direito e vote. Participe dessa festa da democracia.