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Fuga de Mossoró em fatos, números e perguntas

Recaptura dos foragidos da prisão federal marcou o fim de uma caçada humana, mas investigação sobre falhas no sistema prisional apenas começou

Após uma fuga intensamente planejada que deixou autoridades perplexas, a recaptura da dupla de foragidos da Penitenciária Federal de Mossoró, na tarde desta quinta-feira (4), marcou o desfecho de um episódio que desafiou o governo e polícias diante do crime organizado.

No entanto, desvendar com precisão a cadeia de ações criminosas e falhas de segurança seriais que permitiram a fuga exige uma investigação rigorosa. Enumeramos as dúvidas, pontos nebulosos e interrogações que precisariam ser respondidas.

O que se sabe
  • Membros do baixo escalão do Comando Vermelho, Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento escaparam através de um buraco na parede de suas celas;
  • Foi a primeira fuga de um presídio federal de segurança máxima no Brasil;
  • A investigação da Polícia Federal aponta para o auxílio externo recebido pelos foragidos pelo menos depois que saíram do perímetro do presídio;
  • A recaptura dos fugitivos resultou de uma operação conjunta entre a PF, Polícia Rodoviária Federal (PRF) e outras agências;
  • Apenas com as forças federais, a operação de busca custou R$ 6 milhões aos cofres públicos.


O que falta descobrir

Falhas em série

Pontos cegos nas câmeras de segurança permitiram que os detentos cavassem um buraco na parede da cela sem serem detectados em tempo real.

A estrutura física vulnerável facilitou a escavação e a fuga. A falta de manutenção adequada nas instalações prisionais pode ter contribuído para a situação.

Relatório da Corregedoria-Geral aponta falhas nos procedimentos carcerários de segurança, mas não haveria indícios de corrupção.

O Secretário Nacional de Políticas Penais afirma que a revista diária na penitenciária federal de Mossoró (RN) teria impedido a fuga. Ele denuncia que as revistas deixaram de ser feitas pelo menos 30 dias antes da fuga.

A negligência da administração também é investigada. As autoridades locais reiteradamente solicitaram reforço na segurança, mas os pedidos foram ignorados pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen). A falta de investimentos em infraestrutura, tecnologia e pessoal deixou a prisão vulnerável.

Nesta sexta-feira (5), foi anunciada a demissão do diretor da Penitenciária Federal de Mossoró, Humberto Gleydson Fontinele Alencar.


O enigma da fuga

A linha do tempo da fuga e a rede de apoio aos fugitivos suscitam questionamentos. Quem os auxiliou durante os 50 dias? Onde se esconderam e como financiaram sua fuga? Qual o envolvimento do Comando Vermelho nesse processo?

Segundo o secretário nacional de Políticas Penais, André Garcia, os fugitivos tiveram ajuda só após saírem da prisão. “Todas as informações que temos, tanto do inquérito policial quanto das investigações feitas pela corregedoria, apontam que eles passaram a ter ajuda após a fuga da unidade. Eles passaram um período muito grande sem ajuda nenhuma, mas depois passaram a receber um certo suporte […] Eles estavam escoltados, com três carros, com pessoas armadas, com celular e com dinheiro. Havia uma rede de suporte, sim, tanto que foram realizadas 12 prisões ao longo das operações. “

A investigação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Ceará (Ficco/CE) informou que os fugitivos saíram de barco pesqueiro do estado, antes de serem recapturados no Pará.

“Eles foram presos a cerca de 1,6 mil quilômetros do local da fuga, o que demonstra que obviamente foram ajudados por criminosos externos. Tiveram auxílio de seus comparsas das organizações criminosas”, afirmou o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, ao dar mais detalhes sobre a captura.

Suporte do Comando Vermelho

A rede criminosa montada pelo Comando Vermelho para dar suporte aos fugitivos de Mossoró forneceu chips e celulares a Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento, em uma tentativa de dificultar o rastreamento feito pela inteligência da PF.

Apesar da mini “central telefônica”, a PF conseguiu identificar esses contatos e estabelecer o perímetro onde os dois fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, poderiam estar.

No momento em que foram abordados pela PF e PRF, em Marabá (PA), a dupla portava oito celulares.

Ao fornecerem apoio logístico, escolta, armas e dinheiro aos fugitivos, os líderes do Comando Vernelho destacaram que “quem está com eles não será abandonado”.

O cerco

As buscas envolveram helicópteros, drones, cães farejadores e sensores termais, além de mais de 600 homens, incluindo a Força Nacional e equipes de elite da PF e da PRF.

As buscas se concentraram, desde o início, nas áreas rurais de Mossoró e Baraúna, que são ligadas pela estrada RN-015, onde fica o presídio, que fica próximo da divisa com o Ceará.

Durante a fuga, Mendonça e Nascimento invadiram três casas e fizeram uma família refém. Segundo informações da PF, o CV enviou um Pix de R$ 5 mil ao dono de uma fazenda que os abrigou por alguns dias.

A forte relação familiar entre o fugitivo da Penitenciária Federal de Mossoró Rogério Mendonça da Silva com a avó, Tereza Padilha Silva, 86 anos, ajudou a identificar o perímetro onde os criminosos poderiam estar. Rogério usava diversos celulares para entrar em contato com parentes e saber sobre o estado de saúde da idosa.

Por volta das 10h da manhã desta quinta (4), um delegado da PF informou à PRF em Marabá que os fugitivos passariam pela cidade de Tailândia (MA), a 300 quilômetros de Belém. A polícia começou a fazer o acompanhamento dos criminosos. Quando eles se aproximaram de Morada Nova, a 25 km de Marabá, os policiais fecharam dois lados de uma ponte, na BR-222.

Um fugitivo estava em um carro, e o outro em um segundo veículo. Um terceiro carro, que dava apoio aos criminosos, também foi parado. Além dos fugitivos, quatro homens que auxiliavam a fuga foram presos.

Com o grupo, foram apreendidos um fuzil com dois carregadores, dinheiro e oito celulares. O Ministério da Justiça afirmou que os fugitivos queriam ir para o exterior.


E agora?

O governo federal anunciou um plano de modernização das prisões federais. São previstos investimentos em infraestrutura, tecnologia e treinamento de servidores. Contudo, detalhes sobre cronograma e valores ainda não foram divulgados.


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